Sabe aquela história de disfarçar a tristeza com um gole de pura? De dizer que tudo está bem mesmo nossa alma estando em desalento? Pois este espírito negativo resolveu baixar no meu lombo neste 20 de setembro de 2020.
Como que está tudo bem se ainda paira no ar esta enfermidade que nos assusta e a saudade dos milhares que morreram ainda é latente?
Como que está tudo bem se neste momento era para eu estar assistindo os desfiles farroupilhas, ou desfilando, ou de cotovelos esfolados pelos balcões de costaneiras dos acampamentos, ou abraçando chinchadamente nossa gente gaúcha pela passagem de nosso dia?
Eu entendo que as milhares de lives amenizam as distâncias. É o que se pode fazer no momento, mas não há nada como um aperto de mão, o escutar de um tocador floreando sua cordeona, os olhos ardendo de fumaça num rancho tapado de gente.
Também compreendo as demonstrações de amor pela tradição vão além destas coisas comuns que citei pois este apreço imortal está no sentimento de cada um, no respeito a história de nossa terra, nas lembranças de quem vive longe, mas o que falo é de alegria, de brilho no olhar, de sorriso no rosto... Isto, desapareceu.
Desde o longínquo 20 de setembro de 1947 quando Paixão Côrtes e seus parceiros organizaram a primeira Ronda Crioula no Colégio Júlio de Castilhos eu creio não ter havido uma comemoração do Dia do Gaúcho tão melancólica. E nem é por culpa deste ou daquele pois os responsáveis fizeram das tripas o coração para amenizar esta prostração. Sou da Comissão Estadual dos Festejos Farroupilhas e sei o que falo. É a situação em si. A insegurança existencial que vem respingar seu óleo escaldante em nossa data.
Mas vamos ter fé, manter nosso apego a tradição dentro de nós e aguardar que, no ano que vem, possamos esparramar os dois pés numa bailanta, palestrar para as crianças nos colégios, enfim, sentir o mundo gaúcho pulsando, vivamente, em nossa volta.
Um 20 de setembro de muita paz a todos.
Foto: João Avila retratando o cantor Dionísio Costa
