Ao
deitar eu nunca pensei
que
aquele sono profundo
ia ser meu derradeiro
fechar
de olhos no mundo.
Iria pular do catre
no
clarear das sesmarias
e
jamais agradeci
por
ganhar um novo dia.
Sentir
o sopro do vento,
o
sol entrando nas frestas,
andar
livre por aí
chapéu
tapeado na testa.
Terra,
gente, criação,
vida
pulsando em quantia
e
jamais agradeci
por
ganhar um novo dia.
Já
deixei meu pala em tiras
em
brigas, tiros, pontaços,
me
julguei por imortal
costa
quente, peito de aço.
Sempre
com bóia na mesa,
água
limpa na bacia
e
jamais agradeci
por
ganhar um novo dia.
No
inverno, nas enchentes
dos
rios saindo da caixa
pra
ajudar desabrigados
eu
"remangava" as bombachas.
Perdiam
tudo que tinham
só
a fé permanecia
e
jamais agradeci
por
ganhar um novo dia.
Hoje,
de cabelos brancos,
pra
existência eu dou valor
botei
no meu dicionário
"obrigado"
e "por favor".
Vivo
tudo intensamente,
do
pranto faço poesia
e
agradeço quando acordo
por
ganhar um novo dia.