RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

segunda-feira, 8 de junho de 2020

PARA COMEÇAR A SEMANA


COM BOM HUMOR
 
Jarbas Pessano, o conhecido “Binha” dos meios tradicionalistas do Estado, além de excelente cozinheiro de acampamento (e de salões), executante de bombo legüero e emérito jogador de truco, tem, entre outras, mais uma excepcional qualidade: conhece de cor, inclusivamente as vírgulas e reticências, todo o rol dos mais recitados poemas do universo poético nativista.

Suas intervenções, em várias oportunidades, livrou de vexames públicos declamadores sujeitos a brancos de memória. É o Binha perceber que o sabiá perdeu-se nos gorjeios e lá vem a “assoprada” salvadora.

De uma feita, integrando o grupo nativista Os Teatinos, liderado pelo exímio violonista Glênio Fagundes, estava ao microfone um dos maiores declamadores do Rio Grande – Marco Aurélio Campos, o “Boca”.

Recitava, por coincidência, um poema deste escriba, Infância, integrado, há muito, a seu amplo repertório de textos.

Uma das características do Boca, como declamador, eram as pausas que introduz ao longo dos poemas que interpreta, levando os espectadores menos avisados, muitas vezes, ao falso entendimento de que o intérprete esqueceu o texto.

Umas das estrofes de Infância diz: “Estância de mentira e de ilusão!/Teu capataz, me lembro,/ era um sabugo,/ e o teu gado de lei,/ sem magro nem refugo,/ eram ossos de cola e de garrão”.

E nesta estrofe estava o Boca, frente a plateia atenta e silenciosa.

Ao chegar no “teu capataz, me lembro... “, Marco Aurélio, braço direito estendido e mão espalmada, olhando um vago ponto nas alturas, aplicou uma de suas características e grandes pausas.

O Binha, certo de que o amigo sofrera um branco, aproximou-se, com passos de lã, do declamador e assoprou-lhe, de canto de boca, a continuação do poema:

- ... era um sabugo...

Boca não resistiu. Já não era a primeira vez que o “espírito santo de ovelha” intervinha em suas participações.

Ao escutar o assopro de “era um sabugo...”, explodiu com o Binha, mal se dando conta de que o microfone estava aberto:

- Sabugo te enfiei no rabo!

Esperou que cessassem os risos e continuou o poema, impávido, solene e pausativo.

Do livro Rapa de Tacho, de Apparício Silva Rillo - Ed Tchê