O mundo inteiro, em diferentes setores, preocupa-se com a
chamada "pós-pandemia". A única certeza que se tem é que nada será
como antes. Prevendo-se, com otimismo, que tudo se normalize entre os meses de
julho e agosto, restarão os resquícios psicológicos, financeiros, estruturais...
Na verdade temos que estar preparados para as mudanças que por certo ocorrerão.
Como o interesse desta página é a cultura regional gaúcha, vamos opinar sobre a
matéria.
Observem que escrevemos a palavra opinar e não afirmar. Portando, tais conclusões são passíveis de
contraditório respeitoso pois não nos baseamos em estudos científicos, até
porque a ciência depende de pesquisas minuciosas e demoradas até que se torne verdade
absoluta e nem mesmo a ciência afirma, com precisão, quando a pandemia vai
acabar e quais os rescaldos de tal tsunami.
Também não pregamos aqui o alarmismo pois pensamos que a nossa
tradição rebrotará mais verde e mais viçosa se soubermos observar e tirar proveito de algumas lições.
O grande problema que vemos para um retorno gradual menos
demorado nas tradições gaúchas esbarra numa palavra: AGLOMERAÇÃO, que é uma
situação permanente neste meio, além do que, na visão de muitos administradores
públicos, bailes, rodeios, festivais, shows artísticos, não são fundamentais
para que a engrenagem funcione.
Mas como reagirão estes setores dentro do contexto geral de tradição?
Mas como reagirão estes setores dentro do contexto geral de tradição?
MTG - Vamos começar pelo Movimento
Tradicionalista Gaúcho, entidade privada que tem a missão de organizar o
tradicionalismo propriamente dito.
É de conhecimento de todos as longas disputas que antecederam
as eleições de janeiro deste ano quando, pela primeira vez na história, duas
mulheres concorreram ao pleito. Só que esta bipolaridade que assola nosso Rio
Grande do Sul desde os tempos de Chimangos e Maragatos não findou nas urnas, ao
contrário. Por motivos que deixaremos de nominar para não assoprar esta brasa
em cinza oculta, a posse da Presidente, Senhora Gilda Galeazzi, veio a
realizar-se via justiça comum e isto gera uma forte oposição até os dias de hoje.
A partir deste episódio comecei a me inteirar mais sobre
alguns meandros do MTG e percebo que a atual administração, dentro do possível
e ante a situação involuntária já descrita, vem realizando um bom trabalho. Sua
diretoria está conseguindo coordenar ações práticas de filantropia bem como a realização
de alguns concursos virtuais, o que mantém a entidade na mídia. Além disso seus
departamentos trabalham a todo o vapor para tomar pé da situação herdada pela
administração anterior e buscar caminhos que não levem a erros passados. O
recente Diagnóstico de Gestão Administrativa é uma prova disto. Sei de pessoas que chegam na sede da entidade
as 8 h da manhã e saem as 8 h, da noite, ou mais.
Quanto a capacidade da atual diretoria em relação a
realização dos eventos inerentes ao MTG, tudo são incógnitas e nem aquela tradicional
e inevitável "torcida contra" pode ser exercida pois as diversas
atividades então programadas foram canceladas.
Alguns Centros de Tradições reclamam de uma maior atenção por
parte da entidade mãe a um possível socorro monetário, tipo baixar taxas ou
mesmo desonerar o filiados da anuidade. Mal comparando, seria os clubes de
futebol em relação a CBF. Quanto a isso não vou opinar pois desconheço as
minúcias de como funciona e não sei até que ponto uma simples ajuda financeira
seria possível ou mesmo legal. Por outro lado penso que a inadimplência dos
filiados deva ter se acentuado.
CTG - Quanto aos Centros de Tradições
Gaúchas em si pensamos que chegou na hora de, sem abandonar o voluntariado que
caracteriza o Movimento, uma semi-profissionalização
na administração das entidades. Sabemos que muitos CTGs sobrevivem do amor de
meia dúzia de abnegados mas, resguardado o carinho familiar característicos de
muitos Centros, o paternalismo não pode mais ser o condutor de associações. Perguntamos:
Todos os CTGs possuem um guarda-livro (contador) de eficácia? Quantos prestam
contas de seus balanços financeiros e patrimoniais a seus associados? Existe
alguém com algum conhecimento na área de marketing entre a diretoria? Ocorre
previsão orçamentária? O que a sua sociedade tem a oferecer de atrativo aos
sócios?
O improviso é bonito numa trova, jamais numa administração. Sabemos
que muitos Patrões se viram como podem para saldar os débitos, tirando dinheiro
do próprio bolso. E não são um e nem dois. Sabemos, também, que os bailes, outrora
uma boa fonte de lucro, não são mais como antigamente. A própria comunidade que
envolve a entidade não comparece. Preferem ficar olhando um filme no conforto
do rancho. Em relação aos já minguados sócios, imaginamos que a inadimplência
deva passar dos 50 %. Assim torna-se difícil administrar, fator que requer uma
patronagem enxuta, objetiva, transparente e criativa.
Na nossa visão algumas entidades que já vinham rengueando de
uma perna só vão passar por extrema dificuldade pós-pandemia. Contudo, se as
lições forem observadas e aprendidas, os Centros de Tradições Gaúchas
rebrotarão ainda mais fortes.
Os Festivais Nativistas
- Este é um setor
cultural que preocupa a classe artística como um todo. Músicos, compositores,
produtores culturais, organizadores de eventos, técnicos de som... e para o mal
dos pecados será uma das últimas atividades a ser liberada pois depende de
público, ou seja, de aglomeração. Da mesma forma, não é vista, como já
dissemos, como essencial. Alguns, até, não consideram a atividade de músico
como profissão. Um absurdo e uma falta de respeito para com estes profissionais.
Dezenas de festivais foram suspensos ou adiados. Em face dos
prazos, alguns projetos já aprovados pelas leis de incentivo a cultura perderam
eficácia e a grande maioria perdeu, ainda, algo essencial, ou seja, o patrocínio.
Sabemos que o apoio de empresas não afetam seu caixa pois os valores destinados
a cultura são abatidos dos impostos das mesmas, contudo, muitas firmas faliram
ou, no mínimo, voltarão com seus olhos fixos na própria reestruturação.
Algumas poucas prefeituras que simplesmente bancavam os
eventos em troca da projeção do nome da cidade poderão fazê-lo, desde que seus
cofres não sejam atingidos por este efeito dominó que se abaterá sobre as
arrecadações como um todo.
Os Rodeios - Esta, possivelmente, será uma da
atividades culturais que menos sofrerá no pós-pandemia. Com a chegada do
inverno no Rio Grande do Sul os rodeios, automaticamente, tendem a diminuir
voltando com força a partir de setembro, mês em que, se espera, as medida
restritivas já estejam mais flexíveis. Outro fator que favorece os rodeios é
seu ambiente aberto. Pelo lado econômico, o rodeio bem organizado praticamente
se paga com as inscrições dos participantes (laçadores).
Os Artistas - A classe dos artistas regionais,
incluindo neste bloco os grupos de bailes, os nativistas, enfim, pessoas que
dependem de sua arte para sobreviver, sem dúvida alguma foram os mais
prejudicados com este distanciamento social. Simplesmente ficaram sem
trabalhar, na noite, nos bailes, nos espetáculos... As lives que tornaram-se
uma válvula de escape serviu mais para arrecadação de alimentos e para manter
os artistas em evidência. São três meses sem trabalho. Que empresa suporta
isto? Somente aquelas que tem "sebo nos rins", ou seja, os grandes
grupos de bailes e os artistas músicos e cantores de renome vão se defendendo
como podem, mas estes são uma grande minoria. Até o ECAD esmoreceu nesta hora em
que seus filiados mais necessitavam.
O engraçado disto tudo é que nós todos precisamos da arte, da
música, da dança, do cinema, de espetáculos, mas na hora de dar uma ajuda eficaz
a quem nos proporciona tais prazeres, a coisa ficou como tosa de porco, isto é,
muito grito e pouca lã.
Os Eventos - Precisamos acreditar que tudo
voltará ao normal, mas em quanto tempo? Falamos aqui em reestruturação organizacional,
econômica e até psicológica. As festas ajudam neste contexto. Temos pela frente,
dentro de nossa seara cultural regionalista, cronologicamente, a Exposição de Esteio
que já está com sua realização sendo divulgada. Entretanto, ainda não ouvimos a
palavra do governador do Estado em relação a esta festividade. Muitos acreditam
que tudo não passa de uma forma de pressão do agronegócio para a sua
realização.
Logo em seguida, no mês de setembro, acontecem desde 1957, as
comemorações farroupilhas. A Comissão dos Festejos Farroupilhas capitaneada
pela Secretaria de Cultura do Estado não deixou de reunir-se neste meio tempo
tendo como parâmetro que tudo vá acontecer, talvez não com a mesma normalidade,
mas com o pensamento que, de uma forma ou de outra, não deixemos de comemorar
os feitos dos farrapos.
Uma pedra no calcanhar dos organizadores é o Acampamento Farroupilha
de Porto Alegre evento tradicional mas que vai contra o que o prefeito Nelson
Marchezam Júnior apregoa, ou seja, a famigerada aglomeração. São 360 ranchos que precisam de maior espaço, ou seja,
aumentar o terreno do parque ou diminuir drasticamente os próprios galpões. E
como controlar a proporcionalidade de pessoas dentro de cada galpão? E o
ingresso no parque que, em fins de semana, chega a abrigar 100 mil pessoas? Sou
testemunha de que o MTG, a Comissão dos Festejos Farroupilhas e a Comissão
Municipal, estão trabalhando com afinco na busca de soluções e, caso o
acampamento e o desfile ocorram, estarão preparados.
Próximo do fim do ano acontece o maior encontro de artes da
América do Sul, o ENART, missão para a nova diretoria do Movimento Tradicionalista
Gaúcho. Também paira no ar a sua plena realização pois todos correm contra o
tempo quanto as chamadas inter-regionais que nada mais são do que etapas
classificatórias para a grande final em novembro em Santa Cruz do Sul e que
normalmente ocorrem nos meses de agosto, setembro e outubro. Mas e a preparação
das invernadas em si, acontecerão quando se os seus ensaios não forem liberados?
Como vimos foram muitos questionamentos e poucas respostas. Tendo como
propósito maior salvar vidas esperaremos, com calma, com compreensão, sem
pressão nos órgãos competentes. Se o mundo nos pregou esta peça em 2020, vamos
fazer do limão uma limonada e vir com mais força e mais organização mas,
principalmente, com mais humanidade no ano vindouro. Para tanto, alguns hábitos necessariamente terão que ser alterados tais como:
MTG - Abrir um canal de comunicação com as entidades filiadas mostrando mais transparência nos seus atos pois as coordenadorias regionais que são o elo desta corrente, por vezes, não cumprem sua parte. Acreditamos que o recadastramento que está sendo efetuado pela nova diretoria é o primeiro passo.
CTG - Achar um meio facilitador de trazer novamente a juventude para dentro de seus quadros bem como interagir mais intensamente com a sua comunidade. A criatividade tem que imperar pois o Centro de Tradições que for tentar sobreviver só de minguadas bailantas está fadado ao fechamento.
Os Festivais Nativistas - Necessitam de renovação. Há quantos anos não surgem novos valores? Outro fato a ser repensado envolve a credibilidade destes eventos. A organização tem que preocupar-se em desfazer as famigeradas panelas que afastam demais concorrentes. Da mesma forma um festival tem que envolver a comunidade o ano inteiro, principalmente o estudantes.
Os Rodeios - Tem que valorizar mais os artistas gaúchos. Está muito em voga a terceirização dos espetáculos e bailes dos rodeios tudo com o intuito de "tirar o corpo fora" da responsabilidade pelas contratações. O que devemos observar é que o nome da entidade promotora está em jogo.
Os Artistas - Tem que trabalhar com mais união, coisa que, atualmente, não existe. É um querendo derrubar o outro por cachê mais barato. Outro fator importante é a adaptação aos novos meios de divulgação e arrecadação. Aquele tempo de vender 100 mil discos não existe mais assim como não existe mais as gravadoras brigando a tapa pelos artistas mais destacados. Hoje tudo é muito rápido. Só não acreditem que a música jocosa seja o caminho para o sucesso.
Teria mais mas... por enquanto era isso.
Quem desejar opinar, criticar respeitosamente, acrescentar fatos novos, favor fazê-lo pelo e-mail:
blogdoleoribeiro@hotmail.com
MTG - Abrir um canal de comunicação com as entidades filiadas mostrando mais transparência nos seus atos pois as coordenadorias regionais que são o elo desta corrente, por vezes, não cumprem sua parte. Acreditamos que o recadastramento que está sendo efetuado pela nova diretoria é o primeiro passo.
CTG - Achar um meio facilitador de trazer novamente a juventude para dentro de seus quadros bem como interagir mais intensamente com a sua comunidade. A criatividade tem que imperar pois o Centro de Tradições que for tentar sobreviver só de minguadas bailantas está fadado ao fechamento.
Os Festivais Nativistas - Necessitam de renovação. Há quantos anos não surgem novos valores? Outro fato a ser repensado envolve a credibilidade destes eventos. A organização tem que preocupar-se em desfazer as famigeradas panelas que afastam demais concorrentes. Da mesma forma um festival tem que envolver a comunidade o ano inteiro, principalmente o estudantes.
Os Rodeios - Tem que valorizar mais os artistas gaúchos. Está muito em voga a terceirização dos espetáculos e bailes dos rodeios tudo com o intuito de "tirar o corpo fora" da responsabilidade pelas contratações. O que devemos observar é que o nome da entidade promotora está em jogo.
Os Artistas - Tem que trabalhar com mais união, coisa que, atualmente, não existe. É um querendo derrubar o outro por cachê mais barato. Outro fator importante é a adaptação aos novos meios de divulgação e arrecadação. Aquele tempo de vender 100 mil discos não existe mais assim como não existe mais as gravadoras brigando a tapa pelos artistas mais destacados. Hoje tudo é muito rápido. Só não acreditem que a música jocosa seja o caminho para o sucesso.
Teria mais mas... por enquanto era isso.
Quem desejar opinar, criticar respeitosamente, acrescentar fatos novos, favor fazê-lo pelo e-mail:
blogdoleoribeiro@hotmail.com