RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

quinta-feira, 2 de abril de 2020

REPONTANDO DATAS / 02 DE ABRIL



Guilherme Schultz Filho nasceu no dia 02 de abril de 1911 na cidade de Carazinho, mais precisamente na Vila Santa Terezinha, distrito de São Bento, e morreu num dia 29 de abril de 1976, em Porto Alegre. Foi um grande poeta gauchesco, autor do clássico poema Gesta De Um Clarim. Filho de Guilherme Schultz (médico alemão, de Westphalia, e bandoleiro da Revolução de 1923) e de Ponciana Fiúza Schultz. Ele foi casado com Maria Borges de Almeida Peres Schultz e não teve filhos.


Guilherme Schultz Filho foi Secretário de Turismo do Estado, Presidente da Estância da Poesia Crioula e, por duas gestões, Presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho. O nome da biblioteca do M.T.G. leva seu nome.

Uma das poesias mais conhecidas de Guilherme se chama Pingos.

 
Em cada ronda da vida
eu tive um pingo de lei.
Montado, sou como um rei,
pelo garbo e o entono.
Cavalo pra mim é um trono:
e neste trono me criei. 
 
De piazito já encilhava
um peticinho faceiro,
que era cria de um overo
e de uma egüinha bragada:
era da cor da alvorada
o meu petiço luzeiro! 
 
Rosado como as manhãs,
do pêlo da própria infância,
mascando o freio com ânsia,
parece que até sorria...
Chamava-se “Fantasia”
E era a flor daquela estância. 
 
Já mocito, o meu cavalo
era um ruano, ouro nas crinas,
festejado pelas chinas
que o chamavam - “Sedutor".
Formava um jogo de cor
sob os reflexos da aurora
com os cabrestilhos da espora
e os flecos do tirador. 
 
Naqueles tempos de quebra,
nos bolichos, ao domingo,
sempre floreando meu pingo
todos me viram pachola
com o laço a bate-cola
e virando balcão de gringo. 
 
O meu cavalo de guerra
chamava-se “Liberdade"!
Chomico! Ouanta saudade
me alvorota o coração!
Era um mouro fanfarrão,
crioulo da própria marca
e eu ia como um monarca
na testa de um esquadrão. 
 
Em uma carga das feias
(como aquela do Seival)
o mesmo que um temporal
rolamos por um lançante
e até o próprio comandante
ficou olhando o meu bagual. 
 
Homem feito e responsável,
o meu flete era um tostado,
tranco macio, bem domado,
êta pingo macanudo!
desses que "servem pra tudo",
segundo um velho ditado. 
 
Mui amestrado na lida,
um andar de contradança;
de freio, era uma balança,
campeiro, solto de patas...
Gaúcho, mas sem bravatas,
e o batizei de "Confiança".
 
O cavalo que encilho
nesta quadra da existência,
dei-lhe o nome de "Experiência".
É um picaço de bom trote
e levando por diante o lote
rumbeio à Eterna Querência. 
 
E, assim, vou descambando,
ao tranco e sem escarcéu,
sempre tapeado o chapéu
por orgulho de gaúcho,
e se Deus me permite o luxo
entro a cavalo no céu!