RETRATO DA SEMANA

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MTC Desenhos

domingo, 24 de fevereiro de 2019

SOBRE OS VELÓRIOS GAÚCHOS


Diversas vezes acompanhamos nossos parceiros até sua última morada,
de acavalo

Um vídeo que anda circulando pela internete despertou muita curiosidade. Trata-se do velório do senhor Alberto Soares, ao que parece na cidade de Caseiros. Na encomendação do gaúcho velho que era trovador alguns parceiros improvisam ao estilo Gildo de Freitas na última homenagem ao Seu Alberto.
Na verdade este fato não é algo incomum nos velórios do Rio Grande do Sul. Eu mesmo, em diversas ocasiões, já presenciei verdadeiros saraus literários e musicais neste adeus definitivo.
Rapidamente me recordo do velório de um grande amigo meu Jari Silva, em São Francisco de Paula, onde dispensamos o caminhão de bombeiros que levaria o corpo e fomos paleteando o caixão, a pé, da casa mortuária até o cemitério municipal numa distância de mais ou menos 2 km. Ao chegar na porta da nossa casa definitiva o Porca Véia abriu a gaita e cantamos a música "ôh de casa", dos Irmãos Bertussi.
Outra grande recordação que trago destes momentos de tristeza foi no velório de Odenaur Pacheco dos Reis, o maior laçador que conheci. Na hora de fechar o caixão seu filho chegou a cavalo com o animal do velho laçador encilhado, puxado a cabresto, quando apeou, desatou o laço que tantas vitórias dera ao seu pai e o colocou dentro do caixão. Foi laçar nas sesmarias do infinito.
Aliás uma das coisas mais tristes que tem é esta história de levar o animal do dono que se vai, junto a outros cavaleiros, para a última despedida. Em sinal de luto as botas do morto vão na encilha, viradas para trás.  
Mais recentemente dezenas de gaiteiros entraram tocando na capela de São Jorge, na Mulada, num adeus musical ao maior de todos os gaiteiros do Rio Grande, Adelar Bertussi, e no velório do grande Paulinho Pires diversos poemas foram recitados pelos vates da Estância da Poesia Crioula.
Sobre o tema, meu amigo Jaime Ribeiro, músico e radialista lá de Uruguaiana, conta que quando o também radialista Milton Mendez de Souza faleceu foi feito um velório bem gaúcho, caixão de pura madeira com cordas no lugar das alças, um rosário de couro e houve uma grande tertúlia ao de redor do finado velado, no CTG Sinuelo do Pago, onde havia sido patrão.  
Como podemos ver, ao menos no interior do Rio Grande, temos algo parecido com o povo mexicano que considera a morte uma libertação das vaidades e todo féretro, bem como o dia de finados, é comemorado com muita música, dança e tequila.
Como deixou gravado Honeyde Bertussi:
"Quando eu morrer não quero grito nem choro,
também não quero que a tristeza vá comigo
peguem minha gaita que pra mim vale um tesouro
e vão tocando até meu derradeiro abrigo".