RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

TRÊS VIVAS AO M.T.G.



Companheirada.
Vai escrever aqui quem não é associado a nenhum centro de tradições, quem não possui o cartão tradicionalista e quem, por vezes, critica com o intuito de contribuir, a série de normas, regulamentos, leis que acabam engessando a engrenagem do "Movimento".
Também não quero fazer apologia a este ou aquele presidente, diretor, conselheiro, coordenador, mas sim referendar a todos que voluntariamente se dedicaram as causas da tradição gaúcha desde os idos tempos da década de quarenta.
Vim abrir cancha com este texto expondo meu pensamento sobre a polêmica gerada pela contratação dos shows sertanejos para o Rodeio de Porto Alegre por pessoas que não tem responsabilidade alguma com a preservação da nossa cultura regional, ancoradas por outras tantas (pessoas) que em busca de popularidade e do monetarismo, confundem reconstrução com prostituição da música gaúcha usando o argumento de que, para nos tornarmos universais temos que ser "Maria vai com as outras". Já tentaram isto nos tempos da Tchê Miusic, lembram no que deu? Se o preço a ser pago pelo reconhecimento nacional for a banalização e a fuga da identidade própria, prefiro ficar eternamente no ostracismo.
Tenho uma admiração muito grande pela dupla César Menotti & Fabiano. São dois rapazes apaixonados por nossa tradição, de uma competência ímpar naquilo que se propõe, levam multidões aonde se apresentam e carregam em si uma simpatia contagiante. Junto com Sérgio Reis formam os sertanejos mais gaudérios do Brasil. Com isso quero dizer que o problema não está na qualidade dos contratados mas na queixa (com razão) de diversos artistas regionais que sentiram-se desvalorizados em sua própria terra.
Ocorre que quem organiza o Rodeio de Porto Alegre não é o Movimento Tradicionalista Gaúcho que, bem ou mal, tem sentado o garrão e mantido aquilo que considera de mais autêntico dentro do resguardo de nossos costumes nos eventos que promove.
E como poderemos cobrar de entidades privadas como Movimento Tradicionalista Gaúcho ou até mesmo da Federação Gaúcha de Laço quando o poder público não dá a mínima importância para a nossa cultura? O que foi feito pelos nossos governantes em prol do folclore crioulo nos últimos anos? Por que fecharam e extraviaram o acervo de pesquisa e de  estudo, de anos de trabalho do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore?
Há pouco tempo, no encontro dos países mais ricos na Argentina, o espetáculo final aos ilustres  representantes de cada nação foi o Bale Folclórico Argentino, todo calcado nas danças gauchas. Um verdadeiro show. E nós? O que temos para apresentar aos turistas além de sapateadores de chula em churrascarias? Não possuímos sequer um museu em condições de ser visitado. 
Por outro lado, temos que fazer um mea culpa e reconhecer que a grande maioria dos artistas gaúchos, ao contrário do sertanejo, não se ajudam, não se apoiam. E se puder dar uma rasteira um no outro, melhor ainda. Prova está na enxurrada de críticas feitas pelos arautos da terrinha ao poeta Rodrigo Bauer e aos músicos Mano Lima, Joca Martins e João Luis Corrêa, pelas composições bem humoradas recentemente lançadas.     
Em relação aos rodeios, sou do tempo em que as pessoas acampavam em Vacaria para participar das atividades artísticas e campeiras por apego a arte nativa. Os prêmios aos campeões de doma e de laço eram um simples troféu. E todos saiam felizes. Hoje, os "caça-prêmios", laçadores profissionais, não vão mais a eventos em que o primeiro lugar não seja um carro zero quilômetro. Tudo gira em torno do money, do cascalho, do bem-bom, do dinheiro. E de quem é a culpa disto? Da evolução? Do MTG que, repito, é uma entidade particular com regras próprias ? creio que não.
Então, que a Federação faça seu "rodeio", contrate quem bem entender, participem do mesmo quem assim o desejar e... segue o baile sempre torcendo que o MTG não caia nesta.
De minha parte, expresso o que escrevi no refrão da música gravado pelo Paullo Costa intitulada O SOM QUE O MEU RÁDIO TOCA.
Eu respeito outras cantigas
que ecoam por aí
mas prefiro José Mendes
Dom Ortaça e Guarany. 

E termino a prosa dando três vivas ao artista gaúcho mais humilde que nunca é lembrado pela mídia seletiva (para não dizer paneleira); a bravura das rádios que ainda mantém em suas grades programas com músicas gaúchas; aos compositores e intérpretes que teimam em participar de festivais mesmo sabendo dos conchavos e apadrinhamentos de muitos destes eventos; ao peão de mãos calejadas que não tem um minguado no bolso mas que não carece de holofotes para jogar seu laço, de graça, campo a fora; ao MTG por seguir nesta luta renhida (e por vezes exagerada) de preservação da tradição gaúcha na sua forma mais pura.  
 
Léo Ribeiro de Souza