RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

sábado, 17 de março de 2018

DE VOLTA O VELHO DEBATE


SOBRE A LARGURA DA BOMBACHA

MTG, com razão, combate este tipo de bombacha
nos eventos que promove
 
Voltou a tona esta semana um tema já debatido a exaustão por estas paragens, ou seja, a largura da bombacha, tudo em função da publicação nas redes sociais e no jornal Zero Hora de uma manifestação do MTG que estará fiscalizando mais a miúde, nos rodeios que patrocina, esta peça da indumentária do gaúcho. Na verdade não tem nada de novo nesta história toda pois tal discussão teve origem quando foi aprovada as Diretrizes das Pilchas, naquele longínquo Congresso (ou convenção?) Tradicionalista de Tramandaí. Ali começou, de certa forma, uma generalização da vestimenta, isto é, não se respeitou as características regionais do Estado.

Por outro lado, o que as pessoas não entendem, ou fazem que não entendem, é que o Movimento Tradicionalista Gaúcho é uma entidade PRIVADA e, sendo assim, faz seus próprios regulamentos. Quem desejar filiar-se ao Movimento e participar de suas atividades que cumpra suas normas e regimentos. Eu, por exemplo, admiro suas promoções, divulgo-as, sou amigo de seu Presidente Nairo Calegaro mas, por não concordar com algumas de suas diretrizes, principalmente em relação a indumentária, não faço parte da entidade. Visto-me como me agrada e como penso ser o correto. Uso boina, rastra, alpargata, jaleco, lenço curto e não deixo de ser menos gaúcho por isso.

Da mesma forma, engana quem imagina que o Movimento Tradicionalista Gaúcho representa nossa cultura como um todo. Alicerçando suas pesquisas e regendo seus princípios no gaúcho português que começou a surgir a partir da Guerra do Paraguai, isto lá pelos primórdios de 1870, ignorou, por exemplo, nossas fronteiras, costumes e origens castelhanas.  O IGTF, que poderia ajudar com seu conhecimento virou um cabide de emprego e... foi extinto num erro grosseiro de nossa administração estadual e sem nenhum pronunciamento em sua defesa de nosso Secretário de Cultura.

Tudo, aqui, precisa de muita conversa, muita pesquisa, e muito entendimento, pois ninguém é dono, totalmente da razão. Contudo, ao relacionar a bombacha estreita com a bombacha castelhana, os representantes do Movimento cometem um grave erro. A bombacha argentina e uruguaia nunca foram justas. Isto é um modismo de agora onde os gaúchos rio-grandenses também estão inseridos.

Se formos retroagir às origens da bombacha poderemos ver que ela surgiu, quase uma década antes, pelas bandas do Prata. Eram largas e coloridas.

A época em que a bombacha começou a ser utilizada pelo gaúcho, ou gaucho, não é precisa. Existem várias versões para a sua origem. 

Uns afirmam que a bombacha foi introduzida por intermédio do comércio britânico na região do Rio da Prata, por volta de 1860, das sobras dos uniformes usados pelas forças coloniais, que copiavam as vestimentas dos povos conquistados. A bombacha seria, então, de origem turca, ou talvez espólio da Guerra da Criméia (como sustenta uma outra versão). 

Quem já visitou os países balcânicos, principalmente a Grécia, a Macedônia, a Turquia e a Albânia, vê nas aldeias o uso disseminado dessas calças largas. Pois ela foi introduzida nos Pampas graças a um grande encalhe de mercadoria e à esperteza de comerciantes ingleses.  

Isto aconteceu em virtude de que as indústrias inglesas tinham confeccionado um grande número dessas calças para os soldados turcos, seus aliados na famosa Guerra da Criméia, que acabou sendo bem mais curta do que calculavam os bretões. 

Para liquidar o Paraguai (na época um país poderoso, que teve a ousadia de possuir uma forte indústria metalúrgica e produzia mais e melhor algodão do que os Estados Unidos!), os ingleses articularam a tríplice aliança. E, além de manter a sua hegemonia comercial sobre nós e sobre as nações do Prata, desovaram as tais bombachas nos exércitos pampeiros. 

Ela caiu como uma luva entre a população dos Pampas, por sua adaptação ao clima temperado e pelo conforto que propicia nas cavalgadas. Mas, se a bombacha era o traje comum para tocar o gado e varar as imensidões dos Pampas, ela era inadequada e proibida nos bailes da fronteira. Para os fandangos, o gaúcho usava calça “cola fina”, levada debaixo do pelego, para manter o vinco. 

Mesmo com a globalização da informação e a “ipanemização” da cultura brasileira, a bombacha continua firme. Dos Pampas, foi para a Serra Catarinense, trazida pelos peões castelhanos que mercadejavam gado, desde o Uruguai até São Paulo. Mais tarde, seu uso espalhou-se no nosso Oeste, depois que a Ferrovia São Paulo-Rio Grande chamou a atenção dos riograndenses para a riqueza das nossas matas de Araucária e para a fertilidade da nossa terra, que era inóspita, desde as barrancas dos Rios Uruguai e Peperiguaçu até o Vale do Rio do Peixe. 

Há também uma versão que diz que, durante a Invasão Moura na Península Ibérica, a calça larga teria se incorporado ao vestuário do norte da Espanha, na região chamada "La Maragateria" e depois trazida para a América do Sul pelos maragatos durante a colonização. Portanto, ela teria origem árabe. 

Por fim, a última tese é de que a bombacha teria vindo com os habitantes da Ilha da Madeira. 

No Rio Grande do Sul, a vestimenta passou a ser utilizada inicialmente pelos mais pobres, no trabalho nas estâncias, logo após a Guerra do Paraguai, por causa da sua funcionalidade. Depois, passou a ser usada por todos.

Hoje em dia ela (bombacha) não tem mais dono. Por isto mesmo escrevi: BRASIL DE BOMBACHAS.

as bombachas "castelhanas" não são estreitas
como defendem algumas pessoas