RETRATO DA SEMANA

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Identidade Visual dos Festejos Farroupilha 2024 / Cintia Matte Ruschel

domingo, 29 de maio de 2016

HOJE É DOMINGO


E TEM FUTEBOL PELO INTERIOR DO MEU RIO GRANDE


Nove horas da matina. Na costa do Capão do Enforcado a cancha está preparada. Só falta botar as redes que vem chegando de carroça. O cal já foi largado por de riba do capinzal seco. O time do Boqueirão se prepara para receber o Canela Preta, escrete formado, em sua maioria, pela peonada da Estância São Gregório. A rivalidade já vem dos torneios de laço da região.
 
O arqueiro do Boqueirão, o Mão de Pilão, já adiantou que se perderem nas quatro linhas, ganham no jogo do osso, no truco cego, no cuspe a distância.... Na capela o vigário dá um apurão no seu sermão dominical pois percebe que os beatos estão impacientes, em virtude da grande peleja.
 
Nos preparatórios, o capitão do Boqueirão, o Sete Facadas, beque que visa mais a medalhinha do atacante adversário do que a própria bola, utiliza seu cigarro de palha e fumo crioulo para acender um a um os foguetes armazenados em duas caixas, num chamamento do vizindário.

Os políticos aproveitam a ocasião para despejar suas promessas. Outros atam negócios, carreiras, serenatas. No balcão do galpão de costaneiras, misto de vestiário e bolicho, a canha e o pastel correm soltos.

Depois da contenda, com qualquer resultado, haverá churrasco assado na vala, cantoria e muita rancheira.

Enquanto no resto do mundo os jogadores que ganham milhões perderam a identidade, o amor a camiseta, por aqui os atletas dão a vida pelos seus escretes.

Este é o futebol na costa da restinga do interior do meu Rio Grande. Que assim permaneça por muito tempo.

Texto: Léo Ribeiro
Chapa: autor desconhecido