RETRATO DA SEMANA

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Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

sábado, 20 de fevereiro de 2016

REPONTANDO DATAS / 20 FEV


NASCE HONEYDE BERTUSSI


No dia 20 de fevereiro de 1923, de nascia em São Jorge da Mulada, Criúva, então pertencente ao município de São Francisco de Paula, o precursor da música fandangueira do Rio Grande do Sul, Honeyde Bertussi Siqueira.

Sua história musical é riquíssima e mereceu, de minha parte, a edição de um livro, todo em poesia. Para tanto, passei a conviver mais a miúde com o "Cancioneiro das Coxilhas" ficando, mais ainda, seu fã. Ele contava passagens de sua vida, eu botava no papel e posteriormente, já no meu rancho, fazia versos do que havia anotado. 

No lançamento do livro, em São Francisco de Paula, saía gente pelo ladrão da Associação Atlética Banco do Brasil. Até cavalgada organizaram.

Um pouco dos relatos de Honeyde:       

Um fato pitoresco viria a acontecer e tornar-se um marco em 8 de maio de 1942.  Uma chuvarada muito grande fez encher o rio da Mulada. A orquestra que ia toca o baile em São Jorge não consegue passar. Me tiraram da cama lá pelas nove da noite, para tocar para aquele povo que estava reunido. Fui de gaita de boca e violão, e meu irmão Valmor levou um chocalho e o acordeão para mim. Nos saímos muito bem.

Naquela mesma noite, acertei um baile, o primeiro na minha vida. Contratante: Saturno Gomes, de muita coragem.

Passei a estudar tudo sobre o acordeão: música no papel e decorando certo o que eu ia aprendendo, tendo nos velhos gaiteiros todos os exemplos de harmonia, ritmos e compassos. Os diferentes gêneros, esses eu encontrei nas livretas de banda de música, na qual papai foi maestro.

Quando ele percebeu minha facilidade e minha dedicação em arte musical, pegou as duas clarinetas e passou-me a dar instruções musicais. Papai empolgou-se e resolvemos formar um conjunto com os outros três irmãos. Compramos um sax alto para o Wilson e o Valmor passou a usar a bateria que tinha sido da banda da Criúva. Logo o Adelar entrou tocando pandeiro e cavaquinho e mais tarde acordeão. Formamos o conjunto “Dois Porongos Acoierados”, que tocou muitas festas nos municípios da região.

Em 1946, os irmãos Wilson e Valmor compram um caminhão, Fioravante transfere-se para Caxias do Sul e o conjunto passa a reunir-se somente para tocar as festas do padroeiro dem São Jorge da Mulada. Honeyde continua estudando, agora com o maestro Victor De Lazzer, em Caxias do Sul, tocando bailes e festas com grande atividade, já colocando nos anúncios o aposto “Cancioneiro das Coxilhas”. A partir de 1947, Adelar, já com domínio total do instrumento, passa a acompanhar Honeyde em todas as apresentações.

Em 1949 foram contratados para uma apresentação da recém inaugurada Rádio Erechim, na cidade de mesmo nome. O apresentador do programa Álvaro Aquino, apresentou a dupla como “Os Irmãos Bertussi – Os Cancioneiros das Coxilhas”. Essa foi a “cerimônia” de batismo.

Em 1955, com a gravação e o lançamento em nível nacional, do primeiro LP “Coração Gaúcho”, pelo selo da Copacabana, e a veiculação de reportagem na revista semanal “O Cruzeiro”, então a mais importante em circulação no Brasil, consolidava-se o caminho para levar a música Bertussi para inumeráveis recantos da Pátria.

Foram duas décadas de intenso trabalho. Centenas de shows, festas, bailes e muitos LPs gravados.. No entanto, foi na música para dançar que se criaram e consolidaram alguns ritmos como samba campeiro e estilos que, mais tarde, passariam a servir de vertente para centenas de outros conjuntos musicais importantes do Rio Grande do Sul.

O pioneirismo dos Irmãos Bertussi, entre outros aspectos, reside no trabalho inovador de juntar, pela primeira vez, dois acordeões, executando com exímio e perícia, musicas previamente escritas e arranjadas para os dois instrumentos, construindo um resultado sonoro e rítmico absolutamente inédito que, com o passar dos anos, viria concretizar o que hoje genericamente se intitula, no sul do Brasil, de música fandangueira.

Em 1965, a dupla desfez-se, passando seus integrantes a formar conjuntos próprios que continuaram a trajetória de apresentações em shows e bailes e a produção de novas músicas e novos discos.