RETRATO DA SEMANA

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Pinheiro Machado, ao centro, sentado, e seu estado maior - Revolução Federalista -

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

MEIAS VERDADES DE TAU GOLIN



No dia 01 de fevereiro de 2016, postamos a seguinte matéria em nosso blog:


Segundo informações que recebi, o historiador Tau Golin concedeu uma entrevista a ser publicada no Jornal Zero Hora onde relata que o gaúcho "dá uma importância demasiada, irreal, ao cavalo" (mais ou menos nestes termos).
O conteúdo da citada entrevista talvez seja uma resenha do contido em seu livro (terceiro volume) intitulado A Fronteira. Ainda não li o livro onde o autor debruça-se numa época importante da formação de nossa região e das guerras luso-espanholas (1763 - 1778), mas confesso que estou mais curioso pela tal entrevista.
Para quem não o conhece, Luiz Carlos Tau Golin é jornalista e professor de história da Universidade de Passo Fundo mas consegue mais projeção (ou contrariedades) em seus ataques à líderes republicanos da Guerra dos Farrapos ou ao Movimento Tradicionalista de agora.

Todos sabem do elo histórico entre o gaúcho e o cavalo, não somente para as guerras e diversões mas também, e principalmente, para o trabalho. Até hoje o animal é considerado a extensão das pernas do riograndense sendo motivo, há muitos anos, de temas musicais e poéticos. O gaúcho se considera um centauro pampeano. Portanto, se o conteúdo for no costumeiro tom de Tau Golin, vem polêmica por aí. 
Pois bem. No dia de ontem, domingo, 7 de fevereiro de 2016, saiu a tal entrevista, ou seja, com uma semana de antecedência já sabíamos, inclusive, do seu conteúdo.
Classificado pelo autor da matéria - Luiz Antônio Araujo - como escritor, cronista e "polemista" Tau Golin deixou a desejar nas três longas páginas que lhe foram concedidas. Sinceramente, esperava mais. Não conseguiu nem ao menos explorar sua maior virtude, ou seja, a polêmica
Em suma ele defende seus pensamentos em frases como:
- Não existiria o Rio Grande do Sul sem navegação.
- Os farrapos perderam em razão da cavalaria.
- Na história contemporânea, o cavalo só se presta para patrulhamento de grandes distâncias e para reprimir manifestações públicas de estudantes e operários, numa mentalidade de covardia.
Bueno. Se seguirmos nesta lógica poderíamos sintetizar que não existiria o Brasil sem navegação. Que eu saiba Pedro Álvares Cabral não chegou no litoral baiano montado a cavalo.
De fato, a navegação teve muita importância na povoação da costa litorânea brasileira e a Província de São Pedro, em face de fatores diversos, dentre eles a posição geográfica onde a distância ocasionava o afastamento do eixo econômico Brasil-Metrópole, não foi diferente. Mas os portugueses ao povoarem Laguna, até então o ponto mais avançado do litoral sul, abriram até a Colônia do Sacramento  um caminho TERRESTRE com o objetivo de atender ao comércio de gado e de muares, isto é, Tau Golin, propositalmente, não cita a importância tropeira que, primeiramente, fizeram surgir os currais, os corredores de tropas, depois as invernadas e, posteriormente as povoações oriundas das pousadas.

Sem falar que, bem antes disto, os missionários espanhóis já haviam fundado os Sete Povos onde os índios das reduções guaranis já lidavam com o gado. Por outras regiões da província circulavam os kaingangs, os carijós e os Caáguas, ou Caaguaras, índios "cavaleiros" quando então os bandeirantes vindos da Capitania de São Paulo (a pé) realizaram ataques às missões aprisionando e afugentando índios que deixaram a gadaria solta por toda a região das vacarias. Na reculuta deste gado entra, novamente, a importância do cavalo.
 
Em suma, de Laguna às Missões, das províncias do Rio Grande a São Paulo, os desbravamentos, as ligações, os povoamentos, foram feitos por via terrestre a A CAVALO.

Em relação a afirmativa de que os farrapos perderam a guerra em razão da cavalaria, podemos tecer algumas considerações como:

Realmente a falta de uma marinha foi fundamental para que o conflito farrapo pesasse em favor dos revolucionários. Tanto é assim que Garibaldi promoveu, em minha opinião, a maior epopeia da guerra ao atravessar pelo campo, com dois lanchões puxados por cem juntas de boi cada um, de Camaquã a foz do Rio Tramandaí, até desembocar no oceano e invadir Laguna. Tudo isto porque a ligação de Porto Alegre a Rio Grande, feita pelo Rio Guaíba e lagoas, sempre esteve sob o controle dos imperiais. A logística, desta forma, era realizada de maneira rápida e segura. Por isso a tentativa desesperada de Bento Gonçalves de tomar São José do Norte, porta para o mar.

De outra parte podemos afirmar que foi graças aos cavalos e aos seus excelentes e bravos ginetes que uma província esquecida pela côrte sustentou, no braço e nas patas, uma revolução/guerra por quase dez anos, com menos soldados, menos armas, mas muito mais conhecimento dos terrenos dos embates e com uma cavalaria de causar inveja aos caramurus e que proporcionou inúmeras vitórias neste embate que, ao final, terminou em acordos benéficos para ambos os lados do conflito. Não houve vencidos nem vencedores.  É dever observar, também, que demais revoltas do gênero eclodidas na época, como Sabinada, Cabanada, e outras, por não terem uma cavalaria à altura da rio-grandense, não passaram de meses.

Quanto a chamar de covardes os policiais que se utilizam de cavalos para reprimir manifestações de estudantes e operários, isto é uma questão para nossa brigada militar responder ou questionar. 

 
 Tau Golin... Perdendo a Guerra.