Toniolo divulga vídeo pichando
Monumento aos Açorianos
"pela milésima vez"
Foto:
Adriana Franciosi / Agencia RBS
Por: Gustavo Foster
É até difícil ver o Monumento aos
Açorianos em sua forma original. Um dos alvos preferidos de pichadores em Porto
Alegre, a escultura inaugurada em 1974 pelo artista Carlos Gustavo Tenius tem
um danificador contumaz: Sérgio José Toniolo, mais conhecido apenas pelo último
nome. No último sábado, o pichador foi além e publicou um vídeo em que aparece
pintando o monumento "pela milésima vez".
No registro, Toniolo aparece
usando um spray de tinta amarela para pintar seu nome seis vezes no aço
patinável do monumento, que já tem o nome do ex-policial civil de 69 anos
pintado outras tantas vezes em branco. Na maioria das vezes, Toniolo pinta por
cima de pichações aparentemente mais antigas.
De acordo com a promotora de
Justiça Ana Maria Moreira Marchesan, da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente
de Porto Alegre, a ação é crime e se enquadra na Lei de Crimes Ambientais
(9.605, de 12 de fevereiro de 1998). O problema é que, para a Promotoria,
Toniolo é um fantasma.
– Ele é uma lenda. Já estou há
alguns anos trabalhando nessa área e nunca o processei, ao contrário de outros
pichadores que são constantemente pegos. Eu nem sei te dizer se não é uma
dessas identidades assumidas por um grupo. A gente nunca conseguiu pegá-lo –
diz a promotora.
Há duas formas de enquadrar um
pichador: denúncia ou flagrante. Agora, com um vídeo publicado na internet, é
possível que um processo tome corpo. Segundo Ana, isso "certamente"
vai acontecer.
Com vistas numa provável
restauração próxima, autoridades têm dúvida se vale a pena gastar dinheiro e
tempo limpando as letras de Toniolo – e de tantos outros pichadores que ali já
deixaram suas mensagens. O monumento está quase destruído pela corrosão, e Luiz
Bolcato Custódio, coordenador da Memória Cultural da Secretaria Municipal da
Cultura de Porto Alegre, diz que a urina (tanto humana quanto animal) e a
umidade já deixam a obra a ponto de cair:
– O problema principal é a
degradação do metal. A pichação, em si, é um problema estético secundário –
garante, para depois completar: – Mas esse cara existe? Eu achava que era mito,
que não era uma pessoa, mas alguns seguidores. Então ele está vivo...
Um projeto de restauração do
Monumento aos Açorianos já está praticamente pronto, esperando por recursos. As
peças da parte de baixo da obra seriam retiradas, trocadas por chapas de aço do
mesmo formato e espessura e refixadas na base de concreto. Quem explica é
Edegar Bittencourt da Luz, arquiteto responsável pela instalação da obra em
1974 e designado para essa reforma. Preço e tempo para executá-la não estão
definidos, mas quando o documento foi lançado, há mais de dois anos, a ideia
era gastar cerca de R$ 190 mil – valor contestado por Carlos Tenius, o escultor
responsável pelo monumento.
Tenius não se preocupa mais com
pichações. Já se acostumou a ver sua obra cheia de intervenções. Ri ao falar de
Toniolo – "a gente convive, não tem outro jeito" – e se surpreende ao
saber que o pichador segue ativo. Aos 76 anos, o escultor e professor segue
trabalhando com arte e tem um projeto em andamento para Porto Alegre, algo
sobre o qual não pode dar detalhes. Seu maior medo é que a corrosão no
Monumento aos Açorianos faça com que seu trabalho acabe ruindo. Até por isso,
já definiu o material do próximo trabalho:
– Essa eu vou fazer de aço
inoxidável, para evitar esses problemas.
Nota do blog: Desde que vim para Porto
Alegre, isto há mais de quarenta anos, vejo, por todos os cantos, pichações deste senhor que, para mim, é um
débil mental. Mas o que realmente preocupa é ler que os responsáveis por
reprimir este tipo de crime consideram este sujador de monumentos como “um
fantasma” e, por isso, não conseguem prendê-lo. Isto é o cúmulo da incompetência!