Meu amigo Giovani Grizotti me
falou que desejava divulgar na RBS o 24º Ronco do Bugio, que acontece agora,
dias 10, 11 e 12 de julho, em São Francisco de Paula, mas que precisa de um
“mote”, ou seja, algo diferente, que saísse do lugar comum. Argumentou que em
São Francisco de Assis havia filmado os bugios (primatas) saltitando livremente
na praça da cidade.
Dei a sugestão a este grande
repórter investigativo para que filmassem o Adelar Bertussi, 83 anos, que, ao
lado de seu irmão Honeyde, foi o primeiro gaiteiro a gravar um bugio em disco
(Casamento da Doralice). Tal filmagem poderia ser diante do memorial erguido aos Irmãos Bertussi lá em
São Jorge da Mulada, Criúva, local onde nasceram (na época pertencente a São
Francisco de Paula mas hoje fazendo parte de Caxias do Sul).
Tiro dado, bugio deitado (só no ditado, pois hoje se luta pela preservação deste primata já quase em extinção devido a ganância do homem). E a
gravação, através da RBS Caxias, vai ao ar no sábado do festival (dia 10).
Mas muitos ficam indagando: -
Onde, realmente, nasceu o ritmo bugio?
A discussão existe porque São
Francisco de Assis se diz berçário deste compasso crioulo. Segundo os
assisenses, o gaiteiro Neneca Gomes teria, com sua gaita de botão, imitado o
ronco do bugio macho, no alto dos pinheirais. O escritor Salvador Lamberty
acaba de escrever um livro a respeito. Não tive a oportunidade de apreciá-lo,
mas deve ter muitas pesquisas de fundamento.
Já São Francisco de Paula, que
também requer a paternidade do bichinho, alega que Virgílio Leitão, ali pelas
bandas do Juá, fez o mesmo, isto é, imitou no foles de sua botoneira o roncar
do macaco quando o tempo está para chuva ou quando se vê acuado. Os advogados de
São Francisco de Paula são os próprios Irmãos Bertussi. Adelar, por sinal, me
presenteou com uma pesquisa segundo a qual os tropeiros birivas já dançavam o
bugio com as índias Caingangues da região serrana de Caxias.
O Folclorista Paixão Côrtes nunca
chegou a uma definição sobre o tema mas acha que nenhum dos dois “Chicos” tem
razão porque tanto Neneca Gomes como Virgilio Leitão tocavam gaita de oito
baixos, que abre num tom e fecha em outro, sendo, por isso, impossível o
jogo-de-foles que caracteriza a imitação do ronco. Para ele (Paixão), sem muita convicção ou argumento, a origem
do ritmo seria ali pelos arredores de Júlio de Castilhos, já com gaita pianada. Vá entender...
Costumo brincar seguidamente com
meu amigo, poeta e compositor Paulo Ricardo Costa, ilustre filho de São “Chico”
de Assis sobre o tema. Para nós é mais uma maneira de se divertir e de
valorizar o único rítmo genuinamente gauchesco pois é da alma e da criatividade
do gaúcho que brotou este trotão sincopado do Rio Grande.
Mas na verdade não é todo
o gaúcho que aprecia tal musicalidade porque o pessoal das bandas da pampa
prefere mil vezes a milonga. Eu ouvi de Luiz Marenco que jamais gravaria um
bugio. E até hoje não gravou... Respeitamos.