Na boca do inverno do ano de 2007, o Giovani, o João Alberto e seu filho Carlos, o Sanábria e eu tomamos uma decisão. De sábado para domingo, de madrugadita, sairíamos por determinados locais de Porto Alegre levando alimento para os moradores de rua.
Assim foi durante dois anos. Sempre de bota e bombacha e lenço atado ao pescoço, ali pelas 5 horas da matina de cada domingo, com
chuva, com frio, enquanto a cidade dormia, nós já estávamos de pé e a ordem na
frente da Excelsior Pneus, na Av. Ipiranga, com duas bambonas de chocolate
quente e 180 sanduiches preparados na noite anterior. Dali, partíamos para o
centro, Rua Gerônimo Coelho e, por fim, na antiga viação férrea.
Nesta função voluntária e humanitária
passamos a conhecer pessoas e vivenciar momentos que até hoje calam fundo.
Situações como a da Vózinha, de 78 anos, que os filhos tocaram de casa depois de lhe tirarem o cartão da aposentadoria; ou a do
Gringo, um colono paranaense que viu sua família ser atropelada na beira da
estrada e, por puro desgosto, veio caminhando a esmo até chegar por aqui; ou a
do José, que primeiro dava seu sanduiche para seu cachorro companheiro. Nunca
pedia, mas nós lhe dávamos um segundo pão, que devorava como se fosse o último.
Eram dezenas de histórias de vida (que vida?) que passamos a compartilhar.
Por dois invernos sulinos ficamos nesta
labuta prazerosa e gratificante mas, assim como começamos também paramos.
Hoje, quando por acaso passo
nestes locais, de madrugada, fico pensando por onde anda aquela gente e por onde anda o velho Léo de guerra. E me
sinto mal, com remorso e sentimento de culpa. Afinal, estou mais estruturado, com mais tempo, mais patacas e mais... o diacho do COMODISMO.
Por isso que eu digo: - Já fui de mais valor!