Charla de Peão: *Juarez Cesar Fontana
Miranda
Buenas Gauchada!
Hoje, de madrugadita no galpão do
rancho, sentado num dos cepos que arrodeiam o fogo de chão e sorvendo um
chimarrão, topetudo e bem cevado, pude escutar um bem-te-vi cantando lá no
capão das pitangueiras.
No arremate da madrugada, a barra
do dia ligeirito se areganhava e eu repontava recuerdos, que acolherados ao
cantar do passarinho, me faziam lembrar que o maior segredo da haragana
felicidade estava escondido nos gestos mais simples da natureza e nas pequenas
coisas da vida.
A lo largo dessa quimera
gaudéria, meu pensamento corcoveou como um bagual aporreado, que escapando do
tirombaço da armada do doze braças, arrebentou a porteira da invernada e se
mandou campo fora, soltando a manada xucra da saudade.
Ensiguidita, no más, pude sentir
arrinconada dentro do peito, uma risonha estampa que tinha, no riso, o brilho
do sol matinal. Notei que o fulgor desse sorriso se arreglava, como se fosse o
facho da luz de um candieiro a querosene.
Essa luz alumiava minha estrada
na passagem pelo corredor da existência e resplandecia nos estribos da
esperança redomona, onde me via enforquilhado na garupa, com a certeza de que,
estava protegido e troteava de rédeas soltas nas coxilhas da vida, prás bandas
do destino umbuzeiro, onde de certo, um dia, na olada em que eu lá chegar, irei
beber da água fresca da cacimba, encostarei a cabeça nos pelegos dos arreios e,
ao cabo, descansarei o lombo na sombra da pousada dos tropeiros.
Entonces, um sofrenaço nas idéias
da tenencia galponeira me fez entender, por meio da consciência paisana, que a
volteada daquele trinar do bem te vi avôengo, era simplesmente a centelha
luminosa dizendo que nunca soubera o que seria, até ter os seus filhos.
Que, em vida, com nenhuma riqueza
fizera tudo o que fizera e ainda acreditava que poderia ter feito muito mais e,
que nunca imaginara ser aquela em que veio a se transformar quando olhou para
os filhos e neles se reviu e muito menos que nunca imaginara amar alguém tão
intensamente.
Pois saiba, centelha guapa que
não interessa se o que fizestes era pouco ou era muito, o que importa é que os
teus filhos vão te amar para sempre. Vão continuar a rir e a chorar e
independentemente do que acontecer nesta vida, prosseguirão na crença de que o
teu lume será a força inspiradora para a solução de qualquer problema.
Isto, porque creem que esse
lampejo luminoso não seja nada mais que um naco de luz divina - que existiu na
forma de uma prenda - que, pela constância de sua dedicação e pela perseverança
do seu afeto, tinha um pouco de anjo e pela grandeza da sua alma e pela
imensidão do seu amor, tinha muito de Deus.
Bueno, se não quiserem que eu
abra a goela, feito leitão desmamado, não me peçam para dizer o nome dessa
centelha guapa, porque só ouvirão: Mããeee!!!
*Escritor e Poeta Nativista