RETRATO DA SEMANA

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Identidade Visual dos Festejos Farroupilha 2024 / Cintia Matte Ruschel

domingo, 19 de abril de 2015

PRA UM FUNDO DE CAMPO


 
PRA UM FUNDO DE CAMPO
(Léo Ribeiro)

Na costa de um mato num fundo de campo
é onde me acampo e vivo feliz
depois de andejar por tudo qu’é canto
num fundo de campo finquei a raiz.
Aqui eu escuto murmúrios do vento,
de tarde os lamentos do velho bugio,
durmo na varanda se o calor aperta
e um fogo é a coberta pras noites de frio.

Abri uma roça num morro taludo
e plantei de tudo, mão boa me sobra,
atei uma cerca com junco e taquara
que juro não vara nem corpo de cobra.
A água que bebo vem lá da vertente,
na volta da gente tem fruto maduro.
Assim é que vivo num fundo de campo
com mil pirilampos ponteando o escuro.

Aqui eu não vejo as mazelas do mundo
e cada segundo demora a passar,
e quando a tristeza vem lá na cancela
espanto com ela me pondo a cantar.  

Num fundo de campo me encontro comigo
num simples abrigo que é casa e galpão,
um leite bem gordo da primeira ordenha,
e um corte de lenha dentro do capão.
A velha bombacha cheia de remendo
não troco e não vendo e não tiro por nada,
nos pés eu carrego um par de alpargata,
na cinta uma faca em rebolo afiada.

E quem quiser ver onde mora essa cria
e a barra do dia aponta mais cedo
me faça visita, eu fico faceiro,
num upa, parceiro, "carneamo" um borrego. 
Só não me convidem pra vir pra cidade,
termina amizade m’empaco num banco.
Das lides povoeiras eu sou ressabiado,
eu fui falquejado pra um fundo de campo.