Da esquerda para a direita: Trovador Pedro Ribeiro da Luz, Comissão Julgadora, Adelar Bertussi, Itajaíba Matana, Cleber Mércio e no microfone, Peão de Ouro.
Zeferino Ribeiro da Luz, o irmão mais velho, quando o
conheci, Patrão do CTG Getúlio Vargas, era uma pessoa educada , ponderada e
atenciosa, que dirigia a entidade num período muito triste, como já relatei,
pois a sede estava em lenta construção, entretanto, o mesmo esbanjava simpatia
e cultura, através do seu especial dom de “declamar”, uma poesia especial,
bastava alguém pedir, e de pronto à declamava
ao microfone ou no burburinho de um churrasco.
Além de ter dirigido o CTG com esmero e carinho, Zeferino,
teve o mérito de autorizar e ajudar,
para que o 1º Informativo Folclórico Gaúcho do CTG. Getúlio Vargas,
(1975) ,fosse lançado, numa noite de gala, com um suculento churrasco, com a
presença das mais altas autoridades de Passo Fundo.
Mais não sei, cada um seguiu sua jornada, alem de que, sua
bonita filha, Marli Ribeiro da Luz, ex- Primeira Prenda Getulista, casada com
meu amigo e colega de Conceição, Celso Moraes Fernandes, perderam a vida, num
acidente, ali na ponte, despediram-se como
o rio Passo Fundo, que passa em nossas vidas, rápido e correntoso como
chuva de verão.
Zeferino foi a Luz, Pedro o Luzeiro, não temos uma biografia
completa do mais autêntico, controvertido, cômico e sarcástico Trovador,
Repentista ou Versejador do Rio Grande do Sul. Cada um que o viu, ouviu ou
privou de seu convívio, e foram milhares e milhares, em décadas, tem algo, uma faceta ou um causo para contar
sobre este troveiro, pedreiro, quase
analfabeto, que regulava a voz com goles de canha chegando ao fim do dia ou da
noite, de crista inchada e vermelha, tal *calcuta na rinha, (como dizia Jaime Caetano Braum),
contrastando com sua tez indiática, mas ninguém contesta, tinha o “Dom de Deus”
que só os imortais possuem.
Eu não estava lá, mas me contaram, e eu tento reproduzir, que no 1º Rodeio de
Lages, chovia muito, e a peonada do Getúlio, ficou confinada às barracas ,
emprestadas pelo Exército, amplas e confortáveis, tal qual peneira, mas, no outro dia tinha o concurso de Trovas,
e os meus compadres Eurli Grando e José Ênio Serafini, , atinaram que o Pedro
não sabia ler, só assinava o nome por extenso, e que o tema da trova era a
formação de Lages, então, conseguiram um livro, e na barraca, à noite,
gotejando, o leram para que o nosso
representante subisse ao palco sabendo do que se tratava.
Os peões do CTG. Getúlio Vargas, já tinham levantado a taça
de cinco primeiros lugares, em chula, gaita, declamação, danças, e até tiro ao
alvo com revólver 38, cujo campeão foi o Dr. Plínio Moura, (pioneiro do
Festival Gaúcho do Cimo da Serra) e ai
veio a decepção que ninguém, esperava, pois o representante de Lages,
intitulado de “Peão de Ouro”, que nem se classificara em Vacaria,
onde o Pedro fora Campeão, foi aclamado pela Comissão Julgadora como
Campeão de Trovas do 1º Rodeio de Lages.
Se taparam de nojo, resmungaram, reclamaram, contestaram,
vaiaram, mas não adiantou nada, a comissão Julgadora era “luzidia”, mais que
“Pedro Ribeiro da Luz”, o luzeiro das trovas, que analfabeto, tinha dado um
banho de História no Peão de Ouro, de cujus não se sabe o nome, levou uma
surra, laço e *canzil, do Tri Campeão
do Rodeio Internacional de Vacaria e
alhures, o Maior Trovador que Rio Grande
do Sul, já conheceu!
Felizmente, as fotos que ilustram estes fatos, resgatadas,
são testemunhas mudas, que falam per si!
In memoriam dos citados que já se foram, e do cronista Getúlio Dutra, e do Patrão
Campeiro, Nery Fauth.
Em tempo: Resgate de dois versos reproduzidos em depoimento
por Matheus Vieira Leite, em 20.10.2008, que fora vizinho e amigo de
Pedro Ribeiro da Luz:
Vacaria – Rodeio Internacional – sábado – janeiro – meio dia
– Pedro Ribeiro da Luz já estava alto –
Às 15,00 horas no tablado – Concurso de Trovas – 1º verso do Pedro:
Boa noite
platéia amiga,
Voltei cantar
novamente,
E por falar
em boa noite,
Já reflito na
minha mente,
Sou louco por
dar boa noite,
Com o sol
rachando de quente!
O Trovador Luiz Muller (cego de nascença) e Pedro Ribeiro da
Luz – O primeiro chama-o de esmoleiro (por estar mal arrumado), e pedreiro (sua profissão), eis a resposta do
Campeão do Rio Grande:
Tu me chamas
de pedreiro,
E na
profissão eu me apego,
A medicina
está avançada,
Estão curando
até cego,
Mas duvido
que eles curem,
trovador
depois que eu pego!
Odilon Garcez Ayres
Escritor
Membro da Academia Passo-fundense
de Letras.