Por: Juarez Miranda - Poeta
Pos óia só, gurizada, o
Eleutério, mais ligeiro que cachorro galgo, foi assuntá sobre a chusma com um
grande parceiro e colaborador da Charla – o Hilton Araldi – tradicionalista dos
mais autênticos e estudioso dos assuntos que tratam de questões gauchescas.
Despos da prosa com o Araldi, o
Eleutério explicou que o jeito de falar de cada povo é uma “cosa” muito mais
antiga do que ele e que até na bíblia sagrada existe trama sobre o falatório
das gentes.
Diz que na época de Cristo, os
sacerdotes que não iam com a cara Dele, descobriram que Ele tinha um capataz –
O Pedro. A tenência veio porque os dois tinham os mesmos cacoetes no sotaque
dos que moravam na Galiléia e eram conhecidos como galileus.
Também, lá pros lados da “Oropa”,
muito tempo antes da descoberta do Brasil, o latim, que era a língua dominante,
tava mais misturado com o português e o espanhol do que poeira em surungo de
china barranqueira.
O poverio que falava essas línguas
era muito religioso e os padres, que na época mandavam mais que mãe de rapariga
na casa do genro, falavam a missa na língua oficial da igreja católica – o
latim, dessa forma, o jeito de falar dos padres passou a fazer parte do
linguajar desse povo, que um dia veio a dar com os costados no nosso pago.
Entonces, quando um cuera saia do
chinaredo, a pinguancha se despedia dele dizendo: “vá com Deus”; O castelhano
calaveira, jogando a tava, antecipava a jogada gritando suerte, fazia o sinal
do Padre Nuestro no peito e dizia “queira Deus que isso aconteça” ou então
quando o português chegava em casa de madrugada, dizia prá patroa que agorita
no más tinha saído da missa. Como ela, lógicamente não ia acreditá, ele já
completava: “juro por todos os santos que estou a falaire a mais pura verdade”.
A mesma coisa acontecia quando um
gaudério queria falar com outro. Ele lascava: “ô vivente do céu, como tu vai?”;
ou a mãe ralhando com o filho: “guri de Deus, tu para de fazê arte ou te dô um
mangaço no lombo” e assim, essa lenga-lenga se bandiô prô dia a dia, tanto que
até hoje, muita gente da campanha ainda fala deste jeito.
Pos, quando os europeus fizeram a
América de potreiro, trouxeram uns padres espanhóis prá amansá a indiada. Esses
padres, quando falavam o latim, chamavam os índios, e também os animais, de
“caelestis”, que se pronuncia como “tchêlestis” e que tanto pode significar “do
céu” como “de Deus”.
Entonces a indiada aprendeu que a
expressão “tchêlestis” servia para identificar cada um deles, mas como era mais
preguiçosa que lagarto em lageado, encurtou a palavra e quando levava um cagaço
e na hora do sufoco apelava prá Deus ou quando queria entabulá uma charla,
falava apenas tchê!
Quando os índios, que andavam
mais enredados que tripa grossa na brasa com a peonada – paisanos uruguaios,
vaqueanos argentinos e gaudérios sul brasileiros, queriam falar usavam o tchê
para chamar o outro.
Assim, o hábito de usar a
expressão passou dos índios, se esparramou entre uruguaios e argentinos, que
falavam o espanhol, sendo, então, absorvido, também, pelos campeiros do sul,
que falavam o português e que contrabandearam o costume do “tchê” para a sua
forma de falar.
Por isso, gurizada, quando tu
ouvires um gaúcho te chamar de tchê, quer dizer que ele te considera como
alguém “do céu”.
Que bom seria se, no mundo, todos
se tratassem assim, não é mesmo, tchê?
Bueno, enquanto vocês ficam
pensando no que disse o Eleutério, eu continuo aguardando mais chasques dos
leitores e peço permisso prá me retirá porque tenho que fazer uma nova vassoura
de guanxuma, já que a velha tá com o cabo quebrado. Entonces, prá fazê outro
cabo, eu me fico por aqui, falquejando o guatambú.
*Poeta Nativista
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