Quando Paulinho Pires (de costas) retrechou na gaita-de-boca Negrinho do Pastoreio, foi como se uma áurea de paz baixasse nas almas de Dilmar Paixão, Fraga Cirne, Wilson Tubino, Cândido Brasil, José Machado Leal, Darci Dargen, Luiz Alberto Ibarra, Cesar Tomazini e deste blogueiro, na sede da Estância da Poesia Crioula.
Tem coisas que só acontecem neste Rio Grande velho!
Sábado, boca da noite, enquanto se desenvolvia a Cavalgada da Serra com centenas de ginetes, prendas, velhos e crianças recortando os campos dobrados de São Francisco de Paula, Canela, Gramado, Nova Petrópolis e Picada Café em Santa Maria da Boca do Monte, a Cidade Coração do Rio Grande, acontecia a 44ª Ciranda Cultural de Prendas.
Isto é só um resumo das centenas de atividades campeiras e culturais deste fim de semana por todo o nosso Estado.
Eu, de lombo meio judiado das lides, preferi ficar mais perto das casas. Fui na reunião administrativa da Estância da Poesia Crioula.
Que atitude acertada esta minha. Talvez eu tenha presenciado o momento mais telúrico dos últimos tempos em se tratando de cultura gaúcha.
Findada a reunião, após muitas rodadas de mates, de causos dos velhos tempos e de decisões sobre o 57º Aniversário da Estância e o 58º Rodeio de Poetas que acontecerão simultaneamente no fim do mês de junho, quando todos já se despediam, o mestre do serrote Paulinho Pires, recém saído de uma enfermidade, tirou uma gaita-de-boca do bolso do casaco e, sem dizer nada, começou a tocar o Negrinho do Pastoreio. Na metade da música o octogenário poeta fundador da Estância Luiz Alberto Ibarra (primeiro de pé a direita da foto), que já fez muitas serestas quando moço, começou a cantar a belíssima canção de Barbosa Lessa. Tudo no improviso, sem nenhuma combinação.
Pois lhes conto: - Foi de arrepiar o pêlo daqueles homens de idade, calejados de tantas emoções que a vida já trouxe. Como se mil espíritos de gaúchos que foram gauderiar nas sesmarias do infinito baixassem na sede da Academia Xucra do Rio Grande naquele momento, uma áurea de paz se adornou de todos nós...
Por isto eu repito: - Tem coisas que só acontecem neste Rio Grande velho.