RETRATO DA SEMANA

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terça-feira, 1 de abril de 2014

BRIGA DE BUGIOS


Publicação do meu amigo Paulo Ricardo Costa, em seu blog Entre Mates e Guitarra:


Estou fazendo uma pesquisa sobre a vida e obra de Honeyde Bertussi e me deparei com um texto, muito importante, na revista Som do Sul, na página 7 onde diz depoimentos, diz assim, entrevista de Honeyde Bertussi para Airton Pimentel em 1990

"Quando eu era guri havia a habanera, que era muito lenta para baile e o tanguinho, que era uma habanera mais rimada. Os gaiteiros começaram a fazer uma coisa mais alegre e dai "Os Bertussi" nunca gravaram vaneirão, mas samba campeiro. A execução do bugio também só foi possível quando a gaita ofereceu mais recursos. Quem tem um pouco de conhecimento de divisão musical sabe que o bugio nasceu do contrapasso. Eu também nunca disse que o bugio nasceu em São Francisco de Paula. No Juá houve um quilombo. A família Leitão, ali de perto, possuía uma boa gaita de 48 baixos. Muito ouvi falar de um negro chamado Vergílio que dizia que era um baita gaiteiro e tocava muitos bugios. Também meu avô me disse que, no início do século, amanheceu num baile dançando contrapasso e bugio, e isso foi nas primeiras décadas do século!

Com esse pequeno texto de um dos, se não, o mais célebre dos gaiteiros desse estado, que o bugio NÃO nasceu em São Francisco de Paula, pois é, tivesse nascido, como muitos querem que seja, essa "Celebridade" seria uma pessoa muito desinformada. E diferente das pesquisas que existem sobre o tal rítmo, o Sr. Honeyde Bertussi cita as fontes e épocas, nos dando a certeza que o bugio é de São Francisco de Assis, como conta na Pesquisa de Salvador Ferrando lamberty, embora muitos não queriam.



Nota de nosso blog

Como podemos observar a "conclusão" do poeta e escritor Paulo Ricardo Costa foi, no mínimo, equivocada!

Se Honeyde Bertussi não disse que o ritmo bugio nasceu em São Francisco de Paula, ele TAMBÉM NÃO DISSE  que ele NÃO nasceu por aquelas bandas, ou seja, apenas não dá certeza de nada. Aliás, o único que nos dá certeza de tudo é o escritor Salvador Lamberty, filho de São Francisco de Assis. 

O maior de todos os folcloristas Paixão Côrtes tentou, pesquisou, foi a fundo, regrediu no tempo e desistiu, não sem antes concluir que Neneca Gomes (gaiteiro de São Francisco de Assis) não poderia ter “criado” o bugio em face de que tocava gaita botoneira, que abre num tom e fecha em outro, não sendo propícia para a execução do bugio que tem como fundamento a imitação do ronco do primata através do jogo-de-foles.

Se a gente falar com outros gaiteiros, cada um tem sua versão. Histórias e estórias para o nascedouro deste ritmo. Outro dia, em Palmeira das Missões, o grande acordeonista Sérgio Rosa me dizia que a origem do bugio é... Júlio de Castilhos. E agora?

Já Adelar Bertussi, irmão de Honeyde (e que está vivo para confirmar) acabou, e me repassou, uma pesquisa na qual afirma que as índias caingangues já dançavam bugio com os tropeiros birivas na região de Caxias do Sul (outrora São Francisco de Paula). Mais uma vez eu pergunto: E agora?

Mas eu posso afirmar que esta pesquisa do Adelar é a definitiva? É claro que não!

Escrevi um livro sobre Honeyde Bertussi e, para tanto, convivi longos dias com este gaiteiro serrano e pude conhecê-lo intensamente. Eu ia para sua residência em Caxias do Sul, acompanhava-o nos bailes e tenho farto material escrito de próprio punho por Honeyde. 

Sobre o assunto, ele sempre dizia que havia "fortes tendências" de que o ritmo bugio era originário de São Francisco de Paula, mais precisamente da localidade de Juá, através do gaiteiro Virgilio Leitão,  só que por falta informações mais precisas, não seria inconsequente em dar tal fato como conclusivo.

Na verdade esta é uma discussão sem fundamento e que nunca, ninguém, vai dar por definitiva como muitos querem. Pelo menos goela abaixo, não.

Enfim, acho que São Francisco de Assis faz bem em ter-se por patriarca do ritmo bugio (assim como São Francisco de Paula também o faz), só não concordo é colocar na boca de Honeyde algo que ele não pronunciou.