Ontem a tarde, sábado, fui a Capão da Canoa tirar uns pilas pois onde estou, em Curumim, não tem Banco do Brasil e os trocos já estavam minguando. Na cruzada, numa destas prainhas, avistei um pequeno circo, destes que a gente não entende como sobrevive, e lembrei-me de um texto que fiz, há muito tempo, intitulado "E os Circos da Minha Infância?" e que dizia, mais ou menos assim:
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Hoje é domingo, teu pai é um gringo... Hoje tem marmelada?
Tem sim "sinhô"... E o palhaço o que é? É ladrao de
"muié"....
Mas... Espere um pouco! Para onde foram os circos da minha
infância? Aqueles onde as lonas rasgadas, quais colchas de retalhos, eram lar e
trabalho dos artistas que não passavam de uma família e mais dois ou três amigos?
O pai era o cantador de tangos, o equilibrista, o mágico que
transformava as velhas apresentações em pratos de comida. Os filhos, nômades,
sem escola, sem amigos fixos, se contentavam com pouco: davam os “saltos
mortais” sobre um tonel e olhavam o mundo sem enxergar o amanhã. A mãe, apesar
da idade e do corpo um tanto desgastado, era contorcionista tanto no picadeiro quanto no velho
fogão. Os amigos que tinham algumas habilidades como atirar facas, cuspir fogo,
caminhar sobre cacos-de-vidros, não passavam mais do que uma “temporada”, pois
o inverno era rigoroso entre as frestas dos carroções. Quem se aquerenciou por
mais tempo foi um anão, por sua estatura e por não encontrar uma vasa fora dos
borlantins.
Para onde foram os circos da minha infância?
Aqueles em que seus componentes desfilavam fantasiados pelas
ruas poeirentas da minha cidadezinha cantando ...e o palhaço o que é? É ladrão
de muié... ...hoje tem marmelada? Tem sim sinhô...
Aquele pequeno cenário rodeado por arquibancadas de madeiras
repregadas, onde o único animal, um cusco bragado, rolava no chão e se fazia de
morto, era um mundo de sonhos ou será que, sonhando, vi meu tempo ir-se embora
com os circos da minha infância?
A nossa vida é um circo! Vamos fazê-la sorrir!