RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O FORTE QUE NÃO SEGUROU BENTO

Ao fundo, o Forte de São Marcelo, ou Forte do Mar, na Bahia, de onde fugiu nosso líder maior Bento Gonçalves da Silva, durante a Guerra dos Farrapos.

De volta aos pagos depois de recarregar as baterias, lhes conto: que "cosa de loco" retornar ao Rio Grande. Cada pessoa tem um gosto e faz com as patacas que acabam sobrando (quando sobram) o que melhor lhe convém. Uns, compram imóveis, outros carros do ano, outros fazem aplicações e poupanças. O meu gosto com os minguados que reculuto após um ano de serviço, direciono para alguma viagem. Sou meio tipo cigarra que canta no verão e no inverno... seja o que Deus quiser. Todo o mês de outubro eu saio dos ares da capital e me bandeio por aí, ao lado da patroa.   

E mesmo nas viagens as tendências são muitas. Uns preferem as praias, outros a serra, uns dão preferência por um local mais tranqüilo, já, outros, preferem as badalações.

De minha parte digo que qualquer prazer me diverte e sou parceiro até para chorar, é só me dizer onde é o velório. Mas se tem uma coisa que detesto nas viagens é o tal de aeroplano. Sempre digo que sou muito homem com os pés no chão. Embarco numa aeronave e se termina o gaúcho. E não adianta dramim, relaxante muscular, whisky ou reza braba. Só volto a ser gente quando calço o pé na terra novamente.

Mas depois que chego no local que me propus conhecer, também tenho minhas baldas particulares. Gosto de coisas que tenham valor histórico. Visito museus, monumentos e, acreditem, cemitérios.

Pois a recenzinha estou chegando de mais uma andança. Desta feita não ultrapassamos os limites fronteiriços da pátria grande. Demos um ôh de casa em Salvador e no Morro de São Paulo, ambos no Estado da Bahia.

Amanhã, falo mais um pouco sobre Salvador que tem um valor histórico inestimável, pois foi ali o começo da segunda civilização chamada Brasil (a primeira foram os índios que aqui viviam e foram exterminados), que matei minha sede de saber principalmente em relação ao Brasil Colônia e a escravatura. O Pelourinho é um resquício largo destes dois temas citados.

Mas andando pela cidade, orientado pelo guia João Paulo, um baiano mais gordo do que eu e sem pressa alguma para nada, uma coisa me chamou a atenção e fiquei trocando orelhas no partidor... Foi quando ele, após visitar dezenas de igrejas do período barroco, mostrou ao longe, de riba do Elevador Lacerda, o Forte de São Marcelo, local onde Bento Gonçalves ficou preso depois da fatídica Batalha da Ilha do Fanfa, e fugiu de lá nadando, com ajuda dos maçons baianos, para vir reassumir o comando da Guerra.

Pois olha, minha gente, enquanto eu não fugi do lote da excursão e não fui lá pertinho do forte, eu não sosseguei. Falei com meio mundo, pedi permissão ao pessoal do cais do porto, e fui lá fotografar o local que não conseguiu segurar o maior herói que o Rio Grande do Sul pariu. Podem não acreditar, mas senti uma emoção muito forte pois parece que vi Bento Gonçalves da Silva olhando por aquelas janelas gradeadas, imaginando seu povo, lá no sul do continente, lutando por ideais rio-grandenses e ele ali, sem poder fazer nada.

Vejam o que diz a Wikipédia sobre o forte:

O Forte de Nossa Senhora do Pópulo e São Marcelo, popularmente conhecido como Forte do Mar, localiza-se em Salvador, capital do estado brasileiro da Bahia.

Erguido sobre um pequeno banco de arrecifes a cerca de 300 metros da costa, fronteiro ao centro histórico da cidade, destaca-se por se encontrar dentro das águas, como o Forte Tamandaré da Laje, no Rio de Janeiro, e ser o único de planta circular no país, inspirado no Castelo de Santo Ângelo (Itália) e na Torre do Bugio (Portugal).

Durante o século XIX o forte esteve envolvido na maioria dos conflitos políticos em Salvador:

- Durante a Guerra da independência do Brasil (1822-1823), abandonado pelas tropas portuguesas em retirada, o patriota João das Botas, líder da frota de canoas e de saveiros que bloqueava Salvador, aqui hasteou uma bandeira verde e amarela (2 de julho de 1823);

- Como prisão política, abrigou Cipriano José Barata de Almeida (1762-1838), por suas críticas ao fechamento da Assembleia Constituinte (novembro de 1823), assim como os emissários da Confederação do Equador (1824);

- No contexto da Revolução federalista do Guanais (1832-1833), serviu de prisão em 26 de agosto de 1832 a cerca de oitenta integrantes deste movimento irrompido na vila de Cachoeira desde 19 de fevereiro, sob a liderança do vereador e capitão de milícias, Bernardo Miguel Guanais Mineiro (detido a 23 de fevereiro), que pretendia tornar a Bahia independente do Império, com o fuzilamento do Imperador. No ano seguinte, os detidos no forte se amotinaram, dominando a guarnição e hasteando a bandeira de listas verticais, nas cores azul, branca e azul (26 de abril de 1833). Em seguida, utilizando a artilharia do forte, bombardearam a cidade durante quatro dias, até serem dominados, a 30 de abril.

- Quando da Revolta dos Malês (25 de janeiro de 1835), africanos das etnias hauçá e nagô, de religião islâmica, que defendiam o fim do catolicismo, o assassinato e confisco dos bens de todos os brancos e mulatos e a implantação de uma monarquia islâmica, com a escravidão dos não muçulmanos, os seus líderes aqui foram aprisionados, tendo cinco deles sido fuzilados.

- Durante a Guerra dos Farrapos (1835-1845) recolheu o líder farroupilha Bento Gonçalves (1788-1847), que de lá escapou (10 de setembro de 1837) após ter sido vítima de uma tentativa de envenenamento;

- Durante a Sabinada, foi o último reduto dos revoltosos republicanos, ali tendo sido aprisionando em seguida, entre os seus líderes, o cirurgião Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira (1838) e mais outros duzentos e oitenta revoltosos.

A partir de 1855 as dependências do forte foram entregues ao Ministério da Marinha. Nesse período, foi instalado um farol de sinalização, destinado a auxiliar a movimentação de embarcações no porto de Salvador. Este pequeno farol operou por um século, de 1857 a 1957.

O forte não escapou ao olhar crítico do Imperador D. Pedro II (1840-1889), que registrou em seu diário de viagem: "6 de outubro [de 1859] - (...) As iluminações das casas que eu vejo daqui estão bonitas, e principalmente a do Forte do Mar que de dia parece um empadão. Está aí o depósito de pólvora, ameaçando a cidade, (...)"    


Aqui uma chapa batida por este gaudério, no trajeto que Bento fez, nadando, até a praia.