RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Gênero musical Bugio é reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Rio Grande do Sul

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

- CONVERSAS DE VELÓRIO -


Nos meus tempos de moço, os velórios eram realizados nas próprias casas dos finados. Se a sala fosse pequena, se retirava alguma parede para dar mais espaço, pois os ranchos eram de madeira.

Diante do corpo inerte, entre um terço cantado e outro  (as mulheres cantavam as contas do rosário), era servido roscas de milho, bolinhos fritos, torresmo e, na madrugada, um brodo quente (caldo de galinha). Disfarçadamente a gauchada repassava uma boteja de canha, para aguentar o tirão da noite fria.

Nunca vi, lá pela região da serra, as famosas “carpideiras”, que eram mulheres pagas para chorar nos velórios.

Nestes encontros não faltava assunto. Se falava de lavouras, se atava algum câmbio ou  mesmo alguma carreira, se tratava de serenatas, se iniciava algum namoro... Tudo com muito repeito!

Hoje em dia os velórios são feitos em capelas e aqui pela capital tem que abrir o olho. Não se fica mais a noite inteira guardando o finado por causa dos assaltos. Mas lá pelo interior os tiriricas, os mão-peladas, os graxains, os sorros-mansos, ainda não deram as caras pois sabem que o pau-de-fogo esquenta o cano...

Mas as prosas continuam parecidas. Nas encomendações do meu amigo Odenaur Pacheco, sábado passado, lá por São Chico de Paula, se falava muito em política, em futebol, em rodeio, em festa campeira. Deixamos cangado uma cavalgada lá pras bandas do Jusafá (não é verdade meu grande amigo Marco Aurélio Zoreia?), conversei sobre poesia com o músico e compositor Adão Quevedo, e por aí vái...

Por lá, também, tive longos minutos de prosa sabem com quem? Com o Presidente do MTG Erival Bertolini. Com certeza ele não me reconheceu e não sabia com quem estava falando, pois me disse que não olha blogs. Foi melhor assim pois pude sentir sua autenticidade. Achei uma pessoa aberta, simpática e que gosta e se dedica ao que faz. É candidato novamente nas próximas eleições da entidade.

Mas o que mais me surpreendeu foi o seguinte: Consegui expor a ele a minha opinião sobre as diretrizes da pilcha gaúcha, principalmente no que tange a extinção da bombacha serrana por tais normas aprovadas numa Convenção (ou Congresso?) em Tramandaí.

A bombacha serrana, bem antes de se pensar em MTG organizado, era usada como ainda o é até hoje, ou seja, nunca foi larga. Agora, exige-se que a largura da perna seja a mesma da cintura, padronizando a bombacha sem respeito ao jeito de vestir de cada região do Rio Grande.

Sabem oque Erival Bertolini, que me ouvia atentamente, respondeu? – Concordo plenamente contigo!   

E as prosas de velório, a meio-tom e com muita tenência, seguiram adiante...

Foto: Valmir Gomes