Nos meus
tempos de moço, os velórios
eram realizados nas próprias casas dos finados. Se a sala fosse pequena, se
retirava alguma parede para dar mais espaço, pois os ranchos eram de madeira.
Diante do
corpo inerte, entre um terço cantado e outro (as mulheres cantavam as contas do rosário),
era servido roscas de milho, bolinhos fritos, torresmo e, na madrugada, um
brodo quente (caldo de galinha). Disfarçadamente a gauchada repassava uma
boteja de canha, para aguentar o tirão da noite fria.
Nunca vi, lá
pela região da serra, as famosas “carpideiras”, que eram mulheres pagas para chorar
nos velórios.
Nestes
encontros não faltava assunto. Se falava de lavouras, se atava algum câmbio ou mesmo alguma carreira, se tratava de
serenatas, se iniciava algum namoro... Tudo com muito repeito!
Hoje em dia
os velórios são feitos em capelas e aqui pela capital tem que abrir o olho. Não
se fica mais a noite inteira guardando o finado por causa dos assaltos. Mas lá
pelo interior os tiriricas, os mão-peladas, os graxains, os sorros-mansos,
ainda não deram as caras pois sabem que o pau-de-fogo esquenta o cano...
Mas as prosas
continuam parecidas. Nas encomendações do meu amigo Odenaur Pacheco, sábado
passado, lá por São Chico de Paula, se falava muito em política, em futebol, em
rodeio, em festa campeira. Deixamos cangado uma cavalgada lá pras bandas do Jusafá
(não é verdade meu grande amigo Marco Aurélio Zoreia?), conversei sobre poesia
com o músico e compositor Adão Quevedo, e por aí vái...
Por lá, também,
tive longos minutos de prosa sabem com quem? Com o Presidente do MTG Erival
Bertolini. Com certeza ele não me reconheceu e não sabia com quem estava
falando, pois me disse que não olha blogs. Foi melhor assim pois pude sentir
sua autenticidade. Achei uma pessoa aberta, simpática e que gosta e se dedica
ao que faz. É candidato novamente nas próximas eleições da entidade.
Mas o que
mais me surpreendeu foi o seguinte: Consegui expor a ele a minha opinião sobre
as diretrizes da pilcha gaúcha, principalmente no que tange a extinção da
bombacha serrana por tais normas aprovadas numa Convenção (ou Congresso?) em
Tramandaí.
A bombacha
serrana, bem antes de se pensar em MTG organizado, era usada como ainda o é até
hoje, ou seja, nunca foi larga. Agora, exige-se que a largura da perna seja a mesma da
cintura, padronizando a bombacha sem respeito ao jeito de vestir de cada região do Rio Grande.
Sabem oque
Erival Bertolini, que me ouvia atentamente, respondeu? – Concordo plenamente
contigo!
E as prosas
de velório, a meio-tom e com muita tenência, seguiram adiante...
Foto: Valmir Gomes
Foto: Valmir Gomes