Nesta madrugada de sábado, longe do rancho, descansando o lombo para amanhã em riba do meio-dia, prendermos um grito de ôh de casa no CTG Gaúchos Litorâneos, de Tramandaí, e darmos por encerrada mais uma cavalgada Serra Mar, fiquei bombeando por longo tempo o teto negro de picumã do telhado que nos abriga e garrei a pensar nos antigos tropeiros que envelheceram nesta lida. Que gente forte! Lembrei, também, de um belíssimo poema de Rodrigo Bauer que tem muito a ver com este momento que foge da nossa rotina povoeira e que tem por título SOB A LUZ DA LUA CHEIA
Um velho vai na luz da lua cheia,
seguindo o corredor desabitado;
no olhar leva um gigante derrotado;
que o tempo nunca perde uma peleia!
Quem dera ter ficado na maneia
do olhar de alguma china do passado
e tê-la, ainda hoje, do seu lado,
num rancho sob a luz da lua cheia.
Que adianta a juventude que escarceia
no sonho de viver desapegado;
cortar o mundo sempre bem montado
se o tempo, com certeza, nos apeia!
Quem dera: filhos, netos, casa cheia;
o nome que carrega prolongado,
lareira, teto e mate bem cevado
no inverno de garoa que guasqueia...
Um velho vai na luz da lua cheia,
timbrando, no seu rastro já cansado,
a mágoa de andarilho despilchado
pulsando muito além das próprias veias...
Já não se surpreende ou titubeia
na busca de um ocaso anunciado...
perdeu as próprias rédeas do passado
e segue sob a luz da lua cheia!