Este blogueiro entre Edgar Paiva (esquerda) e Glaucio Vieira no encontro dos Qüeras, num velho/novo estilo de culto às tradições onde oque vale é o companheirismo, a cantoria, sem muitos regramentos e pomposidades. São as Confrarias Tradicionalistas que tem por sede qualquer galpão de fazenda deste Rio Grande.
O tradicionalismo, assim como a vida, é cíclico, ou seja, como uma argola de chincha, é redondo só que tendo início, meio, fim e... recomeço.
Digo isto porque me paira a impressão que estamos no início de um novo ciclo dentro do gauchismo talvez até por influência indireta da globalização.
Nos tempos de antanho, antes dos centros de tradições, os gauchos gaudérios reuníam-se em galpões, bolichos e pulperias pelas vastidões do pampa. Ali, tocavam suas guitarras, contavam de suas façanhas, faziam seus versos de improviso, tudo sem muitos regramentos.
Passou o tempo e veio, como disse, os Centros de Tradições, onde os saraus deram vasa aos grandes bailes, o Movimento Tradicionalista regrando estes CTGs. Chegou a época áurea dos grandes festivais (hoje em decadência), os rodeios suntuosos, e o tempo passando... as entidades se profissionalizando... a musicalidade sendo encampada pela comercialização... alguns artistas com estatus de estrêlas... outros Estados com mais poderio econômico carregando o que tínhamos de melhor... as brigas por visibilidade dentro das administrações (pavonaços) e o tempo passando... e o ciclo fechando... até chegarmos nos tempos de agora. E o que se vê? Um retorno às origens.
Atualmente, pequenos agrupamentos de não mais que trinta, quarenta pessoas, buscam, através da identidade comum como a poesia, a música, a amizade, encontrar-se em reuniões pequenas de grupos fechados. São as Confrarias Tradicionalistas.
Muitos poderão dizer: - mas isto já existe há anos. São os Piquetes! Sim, não deixa de ter similitude, só que os Piquetes estão ungidos em volta de uma atividade específica, ou seja, o laço. As confrarias, abrem seu leque para o culto da tradição como um todo.
Na verdade, aquilo que já foi máster hoje está fragmentado em grupos pequenos e de pensamentos convergentes. O maior exemplo disto vivenciei no mês passado na reunião anual do grupo Os Queras de Passo Fundo onde profissionais liberais largam seus afazeres para reunírem-se em volta de um fogo de chão para cantar, tocar, declamar, prosear, matar saudades. Assim como Os Queras, já sei de vários grupos que usam do tradicionalismo sem regras e gigantismos para, apenas, serem gaúchos por um fim-de-semana, uma vez no mês, um encontro a cada 365 dias.
Os grandes bailes acabaram em virtude da quase falência de 90% dos Centros de Tradições. Os festivais nativistas, em sua maioiria, lutam só com o cabo da faca, sem recursos e sem patrocínios. Os Discos de Ouro (vendagem de 100 mil CDs) fazem parte do passado. O que resiste, além de dois ou três rodeios, são os eventos promovidos pelo MTG como a Festa Campeira e o ENART.
Por este motivo os pequenos grupos reencontram-se dentro dos galpões ou em pequenas cavalgadas. São as confrarias do jogo-de-truco, da bocha, da gastronomia, da musicalidade, do pé-no-estribo, do companheirismo. É o cerne da tradição sentando o garrão e começando tudo de novo como nos velhos tempos dos gaúchos gaudérios onde oque vale, realmente, é a alma terrunha e livre e não um cartão de identificação tradicionalista.