RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

domingo, 17 de abril de 2011

O CAUSO DO SEU QUIMAMA

Hoje é domingo, dia de contar uns causos, de dizer umas inverdades, de cuspir na cinza do fogo-de-chão.

Estes dias, queixei-me da falta de contadores e escritores de causos, arte que aprecio tanto. Mas como diz o ditado: quem tem padrinho não morre pagão, meu amigo Rui Gressler me socorre e me manda a seguinte correspondência:

Grande Amigo Léo:

Um dias destes li no seu Blog, um comentário sobre o desaparecimento dos contadores de causos. Pois eu tambem não tenho esta habilidade, mas como gosto muito de escrever, colecionei ao longo da minha vida alguns causos, todos eles verdadeiros, é claro... E um deles estou lhe remetendo. Caso queira aproveitar para seu Blog, tudo bem. Ou então podes aproveitá-lo para contares numa roda de mentirosos, digo, contadores de causos... Grande abraço

O Seu Quimama

Sempre que leio algo sobre nomes próprios bastante esquisitos e engraçados, fico a pensar o que leva alguns pais a “condenarem” seus filhos a carregarem por toda a vida este fardo em suas identidades... Tem cada nome por aí que é um verdadeiro absurdo. E os motivos são vários: superstições, promessas, homenagem a algum antepassado, nome do santo do dia e por aí afora.

Mas o caso que vou contar agora mostra que também o acaso pode contribuir para que uma pessoa tenha este nome, pra lá de esquisito:

Quimama... É isto mesmo; para ser mais completo, Quimama de Oliveira. Pois quando garoto, meu pai sempre nos levava para uma temporada de férias em Cachoeira do Sul, onde nosso avô tinha uma pequena propriedade nos arredores da cidade. E vizinha a ela, morava o Seu Quimama, pessoa muito querida e estimada por todos.

Como eu sempre fui muito curioso, perguntava aos mais velhos a razão deste estranho nome, e ninguém sabia. Como o Seu Quimama era muito educado e atencioso com todos que o visitavam, enchi-me de coragem e fui visitá-lo.

Após algumas perguntas protocolares sobre o tempo, sobre a safra, e algumas “abobrinhas” mais, perguntei a ele porque seus pais lhe colocaram este nome. E daqui pra frente o causo, e o devido esclarecimento é com ele, que apesar dos seus 85 anos, ainda estava bem lúcido.

“Antigamente, devido às dificuldades naturais de locomoção, as famílias que moravam bem no interior, e este era o nosso caso, deixavam para ir ao cartório da cidade registrar seus filhos, quando já havia um número bem grande de crianças. Ou seja, quando a filharada já era bem numerosa, lá se iam todos para a cidade, para de uma vez só, registrar todos no cartório. Como eu era o último que nascera, tinha apenas 2 meses, fui no colo de mamãe.

O escrivão estava lá, dê-lhe que dê-lhe na velha máquina de escrever, e lá pelas tantas, já cansado de tantas certidões, pergunta lá da sua mesa:

- Tem mais algum?

E a minha mãe responde de forma bem rápida: - Tem ainda o que mama. (Naquele exato momento eu estava “grudado” numa teta...).

O escrivão entendeu ser este o nome escolhido, achou meio estranho, mas lascou na certidão o nome de Quimama.

Somente quando chegaram em casa, é que meus pais deram-se conta do ocorrido. Chegaram a cogitar voltarem à cidade para tentar corrigir a situação. Mas devido à longa distância, optaram por deixar assim mesmo, e assim mesmo ficou... Com o tempo me acostumei, e até passei a gostar do meu nome.”...

Rui Gressler