RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

domingo, 25 de julho de 2010

A PURA CÊPA CRIOULA

OS IRMÃOS BERTUSSI - PARTE II

Memorial Os Irmãos Bertussi, inaugurado em 2008 em São Jorge da Mulada - Criúva - Caxias do Sul

Um fato pitoresco viria a acontecer e tornar-se um marco em 8 de maio de 1942. Assim contou Honeyde:

Uma chuvarada muito grande fez encher o rio da Mulada. A orquestra que ia toca o baile em São Jorge não consegue passar. Me tiraram da cama lá pelas nove da noite, para tocar para aquele povo que estava reunido. Fui de gaita de boca e violão, e meu irmão Valmor levou um chocalho e o acordeão para mim. Nos saímos muito bem.

Naquela mesma noite, acertei um baile, o primeiro na minha vida. Contratante: Saturno Gomes, de muita coragem.

Passei a estudar tudo sobre o acordeão: música no papel e decorando certo o que eu ia aprendendo, tendo nos velhos gaiteiros todos os exemplos de harmonia, ritmos e compassos. Os diferentes gêneros, esses eu encontrei nas livretas de banda de música, na qual papai foi maestro.

Quando ele percebeu minha facilidade e minha dedicação em arte musical, pegou as duas clarinetas e passou-me a dar instruções musicais. Papai empolgou-se e resolvemos formar um conjunto com os outros três irmãos. Compramos um sax alto para o Wilson e o Valmor passou a usar a bateria que tinha sido da banda da Criúva. Logo o Adelar entrou tocando pandeiro e cavaquinho e mais tarde acordeão. Formamos o conjunto “Dois Porongos Acoierados”, que tocou muitas festas nos municípios da região.

Em 1946, os irmãos Wilson e Valmor compram um caminhão, Fioravante transfere-se para Caxias do Sul e o conjunto passa a reunir-se somente para tocar as festas do padroeiro dem São Jorge da Mulada. Honeyde continua estudando, agora com o maestro Victor De Lazzer, em Caxias do Sul, tocando bailes e festas com grande atividade, já colocando nos anúncios o aposto “Cancioneiro das Coxilhas”. A partir de 1947, Adelar, já com domínio total do instrumento, passa a acompanhar Honeyde em todas as apresentações.

Em 1949 foram contratados para uma apresentação da recém inaugurada Rádio Erechim, na cidade de mesmo nome. O apresentador do programa Álvaro Aquino, apresentou a dupla como “Os Irmãos Bertussi – Os Cancioneiros das Coxilhas”. Essa foi a “cerimônia” de batismo.

Em 1955, com a gravação e o lançamento em nível nacional, do primeiro LP “Coração Gaúcho”, pelo selo da Copacabana, e a veiculação de reportagem na revista semanal “O Cruzeiro”, então a mais importante em circulação no Brasil, consolidava-se o caminho para levar a música Bertussi para inumeráveis recantos da Pátria.

Foram duas décadas de intenso trabalho. Centenas de shows, festas, bailes e muitos LPs gravados.. No entanto, foi na música para dançar que se criaram e consolidaram alguns ritmos como samba campeiro e estilos que, mais tarde, passariam a servir de vertente para centenas de outros conjuntos musicais importantes do Rio Grande do Sul.

O pioneirismo dos Irmãos Bertussi, entre outros aspectos, reside no trabalho inovador de juntar, pela primeira vez, dois acordeões, executando com exímio e perícia, musicas previamente escritas e arranjadas para os dois instrumentos, construindo um resultado sonoro e rítmico absolutamente inédito que, com o passar dos anos, viria concretizar o que hoje genericamente se intitula, no sul do Brasil, de música fandangueira.

Em 1965, a dupla desfez-se, passando seus integrantes a formar conjuntos próprios que continuaram a trajetória de apresentações em shows e bailes e a produção de novas músicas e novos discos.