RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Prendas do Rio Grande do Sul 25/26

domingo, 11 de maio de 2025

 

FERNANDO PESSOA SABIA MUITO





Nestas minhas andanças por Lisboa estive proseando com meu amigo Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa, que me recitou um de seus poemas mais lindos e mais tristes justamente na véspera do Dia das Mães.  


O MENINO DA SUA MÃE

 

No plaino abandonado

Que a morna brisa aquece,

De balas traspassado

— Duas, de lado a lado —,

Jaz morto, e arrefece.

 

Raia-lhe a farda o sangue.

De braços estendidos,

Alvo, louro, exangue,

Fita com olhar langue

E cego os céus perdidos.

 

Tão jovem! que jovem era!

(Agora que idade tem?)

Filho único, a mãe lhe dera

Um nome e o mantivera:

«O menino da sua mãe».

 

Caiu-lhe da algibeira

A cigarreira breve.

Dera-lha a mãe. Está inteira

E boa a cigarreira.

Ele é que já não serve.

 

De outra algibeira, alada

Ponta a roçar o solo,

A brancura embainhada

De um lenço… Deu-lho a criada

Velha que o trouxe ao colo.

 

Lá longe, em casa, há a prece:

«Que volte cedo, e bem!»

(Malhas que o Império tece!)

Jaz morto, e apodrece,

O menino da sua mãe.