RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA

quarta-feira, 3 de abril de 2024

 

QUE BELEZA DE TRABALHO


O festival da Barranca, em São Borja, na costa do rio Uruguai, que aconteceu de sexta-feira a domingo pois criou-se e se fez história na Semana Santa, está para as dezenas de encontros costeiros como a Califórnia da Canção Nativa está para os demais festivais do Rio Grande do Sul, ou seja, é o ícone, o pioneiro. 

No começo do festival é apresentado um tema e os músicos e compositores tem a missão de desenvolver seus trabalho em riba daquilo que foi proposto. São dezenas de artistas que, ao cabo, disputam os cobiçados troféus. Não há prêmios em dinheiro e prazer destas pessoas é o sabor do reencontro, da tertúlia, da mente trabalhando ao ar livre, das cantorias e algazarras. 

Este ano o tema a ser desenvolvido foi TRAVESSIA e o primeiro lugar coube a letra abaixo. Que inspiração tiveram estes autores!     


Pra Uma Nova Travessia

(Kayke Mello / Guilherme Alves Marques)


Quando eu abri os meus olhos 

Vislumbrando a luz do dia

Iniciava a travessia 

Da minha vida terrena.

Era tu, velho torrena,

Que estava junto à proa

Velejando em água boa

Da minha infância serena.


Sob a luz do teu olhar,

No rastro do teu caminho,

Fui me fazendo homenzinho 

No velejar da existência.

Com toda tua experiência 

Me apontava os remansos,

Pois nem sempre o rio é manso

E é preciso ter paciência.


O tempo passou de presa 

E o rio virou corredeira,

A tempestade traiçoeira

Terminou com a calmaria.

Quando enfim clareou dia 

O sol voltou a brilhar 

Não mais vi o teu olhar,

Se tornou Estrela-Guia.


E feito um barco a deriva

Sem vela e sem direção,

Perdido na imensidão 

Das águas do rio da vida.

Vi tua imagem, refletida,

Ao me espelhar em água boa

E, agora eu vou na proa

Depois da tua partida.


Então serei eu o guia 

Pra ensinar o que aprendi,

Quando algum outro guri

For comigo velejar,

Para assim lhe apontar 

Cada passo que dá vau,

Pois, mesmo além do final

-É preciso navegar-


Quando eu fechar os meus olhos

E não ver a luz do sol

No meu último arrebol

Vou me tornar nostalgia…

Peço, que tu seja o guia,

Quando eu entrar na canoa 

Quero te ver, junto à proa 

Nesta nova travessia!