Viramos o século XXI e aqui pelo Rio Grande do Sul se acredita em Lobisomem. Tal mito é basicamente a crença que determinados homens podem se transformar em um monstro meio lobo meio homem.
Já na Grécia clássica
se conhecia o Licantropo, literalmente lobo-homem. Deve-se aos gregos a
expressão licantropia, usada para designar o fenômeno. Na Roma dos Césares, era
o Versipélio, o Lobisomem latino.
O mito no Rio Grande do
Sul sustenta que o sétimo filho homem de uma família será fatalmente Lobisomem
- a menos que seja batizado pelo irmão
mais velho. Há, também, uma forma folclórica de se transmitir o fado: quando um velho que é Lobisomem sente que ai
morrer, ele fica sofrendo muito a alguém mais moço. E não consegue morrer antes
disso. Se tem algum guri ou moço por perto ele simplesmente pergunta: "Tu
queres?". O ingênuo normalmente acredita tratar-se de algum presente e
responde: "Sim". Aí o velho morre feliz porque transmitiu o fado.
O homem que tem o fado
de Lobisomem é sempre de raça branca, pelo duro (ou seja, não há Lobisomem
negro, alemão ou gringo), magro, de olhos no fundo, dentes salientes e cara de cor
amarelada, muito pálido. Quase sempre mora sozinho. Mais raramente vive com a
mãe, uma velha muito estranha. Mais raramente ainda é casado e a mulher ignora
o fato.
Mora sempre em um rancho
o mais isolado possível, obrigatoriamente com um galinheiro nos fundos.
O fado do Lobisomem é
uma cruz que ele carrega. Não fazendo mal a ninguém, ele é mais uma vítima do
que um carrasco. Se é atacado, reage. E morde cachorros e até pessoas, mas se
puder evitar isso ele evita. O lobisomem tem que cumprir o seu fado , que é
correr nas sextas-feiras de lua cheia, da meia noite ao clarear do dia.
À meia-noite ele se
rebolca no sujo das galinhas, rolando no chão e se transforma. Quando vai
amanhecer ele retorna ao galinheiro, se rebolca novamente e volta a ser gente.
Durante sua ronda
fatídica, se ele é ferido por arma branca, transforma-se e aí, já como homem,
mostra o mesmo ferimento no mesmo lugar em que, como monstro, foi ferido. Se
alguém atira sal nele enquanto Lobisomem, no outro dia, como homem, ele virá a
casa da pessoa que atirou o sal, devolvendo um punhado, como se tivesse
recebido por empréstimo.
Em cada cidade gaúcha correm histórias envolvendo o velho mito do Lobisomem. Cuidem-se, portanto.
Do livro: Mitos e Lendas do Rio Grande do Sul / Antonio Augusto Fagundes