RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
A tomada da Ponte da Azenha, do pintor Augusto Luiz de Freitas (Instituto de Educação General Flores da Cunha, Porto Alegre/RS)

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

FILHO DE TIGRE SAI PINTADO

 

A Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, ao comemorar meio século de existência, tinha como proposta o repasse musical, a passagem de conhecimento, o resguardo dos costumes. Isto ficou estampado no próprio cartaz do evento.

Veio solidificar este pensamento um pai e um filho subirem ao palco do festival como concorrentes na disputa da ambicionada Calhandra. Isto tudo por coincidência e pela qualidade dos trabalhos apresentados visto que os avaliadores, na triagem das mais de oitocentas composições inscritas, não tem conhecimento dos seus autores. E mesmo que soubessem da autoria das obras, a qualidade e a retidão dos jurados são inquestionáveis.

Rodrigo Bauer e seu filho Matheus Marchezan Bauer, poetas, compositores, são o exemplo que simboliza o festival. Sinal de que o nativismo seguirá por bem mais que cinquenta anos. Rodrigo recebeu o prêmio de Melhor Letra com o tema O Ontem e chamou Matheus para participar deste momento histórico (foto abaixo).


Matheus Marchezan Bauer e Rodrigo Bauer
 

Matheus Marchezan Bauer é um jovem já premiado em diversos eventos literários e significa o futuro, a continuidade, a garantia, a preservação cultural desta arte tão importante em nosso Estado, ou seja, a Poesia.  Em sua conta no facebook Matheus escreveu o seguinte:    

Trazendo pra uma analogia esportiva: me sinto como aqueles jovens jogadores, recém saídos da base, que começam a jogar junto daqueles craques com quem na infância escolhiam e jogavam no videogame.

A 43ª Califórnia da Canção Nativa me reservou momentos dos mais especiais nesses 20 anos de vida.

Dia desses cruzei pela antiga casa dos meus avós Vilson e Elizabeth Bauer e uma das janelas estava aberta, então notei ela toda modificada, com móveis e cores diferentes. Resolvi então abrir as notas do celular e deixar salvo o seguinte título: “A casa em que cresci”.

Na mesma noite, sonhei com o meu avô Vilson (que nos deixou no ano de 2014). Não trocamos nenhuma palavra, mas nos abraçamos por alguns minutos.

No outro dia, recebo uma mensagem do meu irmão de arte Alexandre Munhoz Scherer com a seguinte proposta: “Vamos fazer uma canção nostálgica?” Com a certeza de que se tratavam de sinais, escrevi em 58 minutos a letra desse poema especial.

Ele, magistralmente, colocou a melodia que vocês ouviram na voz da talentosíssima Lú Schiavo, junto do baita instrumental dos grandes Marcelinho Carvalho, Edvanio Vieira, Pablo Cardoso e do mesmo Alexandre. Muito obrigado pela parceria nesse momento tão sublime, amigos!

Essa canção nos levou à tão sonhada final da Califórnia, um sonho de infância, que me acompanhava desde os dias vividos naquela casa em que cresci, na esquina da Barão do Rio Branco com a Félix da Cunha em São Borja.

Outra alegria enorme foi concorrer com o cara responsável por me incentivar e apresentar ao nativismo: meu pai. E, como se não bastasse, ver ele voltar a receber o prêmio da melhor letra da Califórnia vinte e três anos depois. Ele me levou pro palco como costumava fazer tantas vezes quando eu era criança, só que dessa vez não levava apenas o filho, mas um concorrente que tem nele a maior referência de poeta possível.

Outro momento que parecia um sonho: uma foto minha com três dos poetas que mais li na minha vida sem sombra de dúvidas. Não foram poucas as vezes que lembro de me emocionar com livros como: “20 anos de poesia” (Rodrigo Bauer), “Punhais do minuano” (Jaime Vaz Brasil) e “Os dez mil poetas”  (Carlos Omar Villela Gomes)

Obrigado a todos que me mandaram tantas mensagens, que gostaram e partilham de emoções especiais com a casa onde cresceram. Mas um agradecimento especial para a Negra Marchezan e Aléxia Scaramussa, que muito inspiram essa dupla de pai e filho que encontra nos versos uma forma de comemorar a vida!

Abaixo a letra dessa canção. A música será postada em breve e divulgada por aqui!

A CASA EM QUE CRESCI

Pelas paredes, com retratos tantos,

ainda me lembro do assoalho antigo...

A minha infância cultivava encantos,

que floresciam por viver contigo!

 

Lembro a mobília, o piso e o telhado,

lembro dos sonhos que deixei em ti,

será que esperam pra ser realizados

desde o momento em que - de lá - parti?

 

Passou o tempo e foi vendida a casa

- tudo acontece como tem que ser -

porém eu guardo uma saudade em brasa

e me pergunto se é tão bom crescer!

 

Por vezes cruzo pela tua frente

e então prometo que vou retornar,

quero voltar porque, em verdade, sempre

muito de mim ainda mora lá!

 

Matheus Bauer