A
Califórnia da Canção Nativa de Uruguaiana, ao comemorar meio século de
existência, tinha como proposta o repasse musical, a passagem de conhecimento, o
resguardo dos costumes. Isto ficou estampado no próprio cartaz do evento.
Veio
solidificar este pensamento um pai e um filho subirem ao palco do festival como
concorrentes na disputa da ambicionada Calhandra. Isto tudo por coincidência e
pela qualidade dos trabalhos apresentados visto que os avaliadores, na triagem
das mais de oitocentas composições inscritas, não tem conhecimento dos seus
autores. E mesmo que soubessem da autoria das obras, a qualidade e a retidão
dos jurados são inquestionáveis.
Rodrigo
Bauer e seu filho Matheus Marchezan Bauer, poetas, compositores, são o exemplo
que simboliza o festival. Sinal de que o nativismo seguirá por bem mais que
cinquenta anos. Rodrigo recebeu o prêmio de Melhor Letra
com o tema O Ontem e chamou Matheus para participar deste momento histórico (foto abaixo).
Matheus Marchezan Bauer é um jovem já premiado em diversos eventos literários e significa o futuro, a continuidade, a garantia, a preservação cultural desta arte tão importante em nosso Estado, ou seja, a Poesia. Em sua conta no facebook Matheus escreveu o seguinte:
Trazendo
pra uma analogia esportiva: me sinto como aqueles jovens jogadores, recém
saídos da base, que começam a jogar junto daqueles craques com quem na infância
escolhiam e jogavam no videogame.
A
43ª Califórnia da Canção Nativa me reservou momentos dos mais especiais nesses
20 anos de vida.
Dia
desses cruzei pela antiga casa dos meus avós Vilson e Elizabeth Bauer e uma das
janelas estava aberta, então notei ela toda modificada, com móveis e cores
diferentes. Resolvi então abrir as notas do celular e deixar salvo o seguinte
título: “A casa em que cresci”.
Na
mesma noite, sonhei com o meu avô Vilson (que nos deixou no ano de 2014). Não
trocamos nenhuma palavra, mas nos abraçamos por alguns minutos.
No
outro dia, recebo uma mensagem do meu irmão de arte Alexandre Munhoz Scherer
com a seguinte proposta: “Vamos fazer uma canção nostálgica?” Com a certeza de
que se tratavam de sinais, escrevi em 58 minutos a letra desse poema especial.
Ele,
magistralmente, colocou a melodia que vocês ouviram na voz da talentosíssima Lú
Schiavo, junto do baita instrumental dos grandes Marcelinho Carvalho, Edvanio
Vieira, Pablo Cardoso e do mesmo Alexandre. Muito obrigado pela parceria nesse
momento tão sublime, amigos!
Essa
canção nos levou à tão sonhada final da Califórnia, um sonho de infância, que
me acompanhava desde os dias vividos naquela casa em que cresci, na esquina da
Barão do Rio Branco com a Félix da Cunha em São Borja.
Outra
alegria enorme foi concorrer com o cara responsável por me incentivar e
apresentar ao nativismo: meu pai. E, como se não bastasse, ver ele voltar a
receber o prêmio da melhor letra da Califórnia vinte e três anos depois. Ele me
levou pro palco como costumava fazer tantas vezes quando eu era criança, só que
dessa vez não levava apenas o filho, mas um concorrente que tem nele a maior
referência de poeta possível.
Outro momento que parecia um sonho: uma foto minha com três
dos poetas que mais li na minha vida sem sombra de dúvidas. Não foram poucas as
vezes que lembro de me emocionar com livros como: “20 anos de poesia” (Rodrigo
Bauer), “Punhais do minuano” (Jaime Vaz Brasil) e “Os dez mil poetas” (Carlos Omar Villela Gomes)
Obrigado
a todos que me mandaram tantas mensagens, que gostaram e partilham de emoções
especiais com a casa onde cresceram. Mas um agradecimento especial para a Negra
Marchezan e Aléxia Scaramussa, que muito inspiram essa dupla de pai e filho que
encontra nos versos uma forma de comemorar a vida!
Abaixo
a letra dessa canção. A música será postada em breve e divulgada por aqui!
A
CASA EM QUE CRESCI
Pelas
paredes, com retratos tantos,
ainda
me lembro do assoalho antigo...
A
minha infância cultivava encantos,
que
floresciam por viver contigo!
Lembro
a mobília, o piso e o telhado,
lembro
dos sonhos que deixei em ti,
será
que esperam pra ser realizados
desde
o momento em que - de lá - parti?
Passou
o tempo e foi vendida a casa
-
tudo acontece como tem que ser -
porém
eu guardo uma saudade em brasa
e
me pergunto se é tão bom crescer!
Por
vezes cruzo pela tua frente
e
então prometo que vou retornar,
quero
voltar porque, em verdade, sempre
muito
de mim ainda mora lá!
Matheus
Bauer