Nesta madrugada uma revista voltada para a Ordem Maçônica solicitou-me alguns escritos, em forma de depoimento, sobre Antônio Augusto Fagundes, que morrera no final da noite de ontem (24/06) aos 80 anos de idade.
Respondi que, sobre suas atividades relacionadas com as tradições gaúchas eu até poderia manifestar-me. Já em relação a pessoa Nico Fagundes, pouco eu teria para colaborar pois, embora fizéssemos parte de diversas entidades comuns, como a própria maçonaria (era obreiro da Loja Província de São Pedro), Academia Maçônica de Letras, Estância da Poesia Crioula e tendo os mesmos gostos por cavalgadas e pelo folclore riograndense como um todo, nunca tivemos convivência. Eu não fazia parte do seu rol de amizades e ele não compunha o meu, embora este artista completo, gentilmente, tenha prefaciado um livro de minha marca. Nosso contato se resumiu a um encontro no IGTF para estas tratativas. Seus escritos enobreceram aquela publicação. O problema é que não gosto de opinar sobre o que não conheço ou conheço pouco, embora pela televisão se notasse que era uma pessoa emotiva.
Agora, em relação a sua contribuição cultural posso dizer que sou um admirador de seu trabalho, pois Antonio Augusto Fagundes praticamente dedicou sua existência em prol do gauchismo indo a fundo em suas ingerências sobre o folclore no Sul do Brasil, e isto, por si só, arrebanha a minha estima.
Antropólogo, historiador, folclorista, poeta, ator, compositor, escritor, professor de danças, comunicador de rádio e televisão, diretor do Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore, enfim, Nico Fagundes era múltiplo em se tratando de conhecimentos.
Homem viajado, advogado, estudioso, de personalidade forte, ao mesmo tempo que arrebanhou milhares de amigos também bateu de frente com muita gente (como o pajador Jayme Caetano Braun). Chimango de cruz na testa só botou lenço vermelho uma vez na vida (e para o mal dos pecados na capa de um disco). Na verdade era um gaúcho de posições firmes e que defendia com afinco as suas convicções. Particularmente eu gostava de seus afrontamentos com aqueles escritores que, até hoje, tem por balda criticar nossos costumes.
Sua vivência dentro do regionalismo começou cedo quando, em 1954, a convite do poeta Lauro Rodrigues, passou a fazer parte do 35 CTG (foi seu patrão mais novo) e a escrever uma coluna sobre regionalismo para o jornal A Hora.
Desse momento em diante foram inúmeras e imensuráveis suas atividades dentro do mundo tradicionalista sendo, até, o mentor e diretor da Escola Gaúcha de Folclore, de nível superior, que existiu por seis anos.
Sua convivência com artistas e poetas da época como Teixeirinha, Gildo de Freitas, Honeyde Bertussi e dezenas de renomados nomes, lapidaram sua formação.
Já descrevemos, em postagem anterior, toda a biografia deste grande ícone. Biografia, esta, que, como já disse, tem a minha admiração e me serve de exemplo e paradigma.
Antônio Augusto Fagundes foi (e será sempre) uma legenda e, ao lado de pessoas como Adelar Bertussi, Telmo de Lima Freitas, Paixão Cortes e alguns mais, serviu de esteio de angico para sustentar, neste plano, as nossas tradições.
Agora, sob as bênçãos do Supremo Arquiteto do Universo, que vá em paz morar na Estrela de Adelbaran, local que, segundo o próprio Nico, os gaúchos que partem hão de reencontrar-se.