RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Preparativos para o casório

sábado, 9 de novembro de 2013

UMA LEITURA QUE RECOMENDO


O Periódico Zero Hora, no dia de hoje, em seu Caderno de Cultura, traz uma reportagem intitulada Uma Jornada Pampa Adentro, cuja leitura recomendo a todos. É sobre as tropeadas nos dias atuais. Lida que foi acompanhada por dois jornalistas que produziram um excelente texto pontilhado de lindas fotos. Abaixo, alguns tópicos do que foi colhido desta brilhante e ilustrativa matéria.




Uma jornada pampa adentro


Textos: MARCELO GONZATTO
Fotos: TADEU VILANI

Ofício que ajudou a moldar o Rio Grande do Sul, a povoar e unir esse vasto pedaço de chão ao resto do país, ainda vive. Fundadores de cidades, construtores de estradas, inspiração para versos, canções e pinturas, os tropeiros seguem riscando o mapa gaúcho na condução vagarosa dos rebanhos de gado. Não cruzam mais os campos em grande número, como até meados do século passado, quando fervilhavam no pampa a serviço de fazendeiros. Mas um punhado de herdeiros dessa lida resistiu à concorrência moderna de trens e caminhões, e preserva um meio de vida a céu aberto que faz parte da história e da cultura local.

Como carregar os animais sobre rodas é dispendioso em trechos de estrada de chão e difícil acesso, onde o frete chega a ser duas vezes mais caro do que no asfalto, os tropeiros do século 21 sobrevivem tocando levas de gado nos rincões mais remotos a um preço que chega a representar apenas um quarto do custo viário. Resistem ao tempo e às inovações tecnológicas também por serem os únicos capazes, muitas vezes, de vencer esses terrenos acidentados, lonjuras onde as BRs e as RSs não se aprochegam ? muitas delas, implantadas sobre traçados que os pioneiros das tropas ajudaram a sedimentar com a batida pachorrenta das patas de seus cavalos, mulas e bois.

- Essa atividade foi fundamental para o povoamento do Estado, já que os pousos de tropeiros deram origem a cidades como Passo Fundo. E rodovias como a BR-101 surgiram de antigas rotas de tropas que, por sua vez, seguiram trilhas indígenas - afirma o historiador Moacyr Flores, autor do livro Tropeirismo no Brasil.

Nos dias atuais, esses homens cumprem trajetos bem mais curtos do que quando percorriam a rota de Viamão ao antigo entreposto comercial de Sorocaba (SP). Viajam dentro de um mesmo município ou entre cidades próximas, mas se sujeitam às mesmas condições inóspitas do passado: acordam antes do sol surgir, dormem ao relento, mesmo sob frio e chuva, enrolados apenas no pelego e no pala em meio à imensidão escura do pampa. Algumas vezes, levam o gado até um ponto acessível para o embarque em caminhões. Em outras, cumprem todo o trajeto para levar os bichos de uma estância a outro pasto ou dono.

Embora sejam cada vez mais raras as tropeadas, em cidades como Santana do Livramento há dois ou três profissionais renomados que perpetuam a atividade. Chamados de capatazes, os comandantes das tropas são contratados pelos fazendeiros (ou "patrões") e recrutam os demais auxiliares da empreitada, chamados peões, sob compromisso de que nenhum bicho se perca pelo caminho. Isso exige um profundo conhecimento do terreno e do manejo com animais para evitar ameaças advindas da exaustão ou de rios capazes de arrastar um boi como se fosse um barquinho de papel.

Para mostrar como vivem e trabalham os tropeiros do terceiro milênio, ZH acompanhou uma viagem de mais de 80 quilômetros, realizada por um grupo de quatro gaúchos no interior de Livramento. De norte a sul da vasta área rural, ao longo de quatro dias, enfrentaram frio à noite e calor durante o dia, temporal dos brabos, rios cheios sem ponte para atravessá-los e o mesmo sol inclemente que iluminou seus antecessores.

Os números

São 4 tropeiros, 16 cavalos, 365 cabeças de gado e duas cachorras ovelheiras. Criador pagou R$ 2 mil pelo transporte dos bois. Por via rodoviária, serviço teria custado R$ 8,4 mil