RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Preparativos para o casório

sábado, 2 de novembro de 2013

QUANDO EU PARTIR



Hoje é um dia de reverências aos que já se bandearam para as sesmarias do infinito, apesar de que, no meu pensamento, todos os dias o são. Mas vou subir a serra, assim mesmo, para dar uma proseada com meus velhos e meus amigos no cemitério municipal de São Francisco de Paula.

A morte é uma coisa que, por vezes, me aflige, por outras, levo na farra. Depende de meu estado de espírito. Mas uma coisa é certa: ainda não estou preparado para morrer. Ainda tenho muito á fazer. Ainda quero incomodar muito a mulherada (minha mulher e minha filha), dar muitas risadas com os parceiros, e viver intensamente esta tradição rio-gandense que é a cultura mais linda do mundo.

Sobre este tema, deixo aos leitores do blog um belo poema do vate Flávio Ernani Barbizan.

Quando eu partir, e Deus queira que demore,
gostaria que fosse deste jeito:
Me cuidando, uma china que me adore,
sentada nos pelegos do meu leito.

Quando chegar á hora (e vai chegar),
queria o cusco me lambendo os pés.
Dos amigos que tive então vou me lembrar,
nem sei se foram cinco, oito, nove ou dez.

Pediria que eu fosse em ano par,
tenho cisma de um, de três, de sete,
e para que poucos viessem me amolar,
queria que chovesse canivete.

Gostaria de partir devagarito,
no embalo de cantigas de galpão.
Bem melhor se estivesse até solito,
lavando a alma num derradeiro chimarrão.

Pode até que uma lágrima apareça,
sozinha, pequena, assim num repente,
duvido muito, mas vamos que aconteça,
vou mentir, dizer que o mate estava quente.

Quando eu partir e talvez isto nem demore,
duas coisas eu quero em meu respeito:
fui feliz, peço então que ninguém chore,
e a bandeira do Rio Grande no meu peito.