Hoje é um dia de reverências aos
que já se bandearam para as sesmarias do infinito, apesar de que, no meu
pensamento, todos os dias o são. Mas vou subir a serra, assim mesmo, para dar
uma proseada com meus velhos e meus amigos no cemitério municipal de São
Francisco de Paula.
A morte é uma coisa que, por
vezes, me aflige, por outras, levo na farra. Depende de meu estado de espírito.
Mas uma coisa é certa: ainda não estou preparado para morrer. Ainda tenho muito
á fazer. Ainda quero incomodar muito a mulherada (minha mulher e minha filha),
dar muitas risadas com os parceiros, e viver intensamente esta tradição
rio-gandense que é a cultura mais linda do mundo.
Sobre este tema, deixo aos
leitores do blog um belo poema do vate Flávio Ernani Barbizan.
Quando eu partir, e Deus queira
que demore,
gostaria que fosse deste jeito:
Me cuidando, uma china que me
adore,
sentada nos pelegos do meu leito.
Quando chegar á hora (e vai
chegar),
queria o cusco me lambendo os
pés.
Dos amigos que tive então vou me
lembrar,
nem sei se foram cinco, oito,
nove ou dez.
Pediria que eu fosse em ano par,
tenho cisma de um, de três, de
sete,
e para que poucos viessem me
amolar,
queria que chovesse canivete.
Gostaria de partir devagarito,
no embalo de cantigas de galpão.
Bem melhor se estivesse até
solito,
lavando a alma num derradeiro
chimarrão.
Pode até que uma lágrima apareça,
sozinha, pequena, assim num
repente,
duvido muito, mas vamos que
aconteça,
vou mentir, dizer que o mate
estava quente.
Quando eu partir e talvez isto
nem demore,
duas coisas eu quero em meu
respeito:
fui feliz, peço então que ninguém
chore,
e a bandeira do Rio Grande no meu
peito.