A CULTURA DO RIO GRANDE DO SUL
Há exatamente oitenta e seis anos atrás, nascia lá onde o Rio Grande
termina (ou começa), na fronteira que não faz fronteira, Santana do
Livramento, àquele que, para mim, ao lado do escritor pelotense João
Simões Lopes Neto, é a figura mais importante da cultura gauchesca, João
Carlos D'Avila Paixão Côrtes.
Não vou aqui cair no lugar comum e passar a relatar dos feitos
importantes de Paixão Côrtes pois é sabido de todos o seu pioneirismo e
que foi o precursor de todo esse movimento de tradição que hoje vemos
por aí, espalhado pelo mundo inteiro. Paixão é o maior responsável pelo
Rio Grande ultrapassar as fronteiras do Rio Mampituba, culturalmente
falando. Antes deste que é considerado o maior folclorista de nossa
terra, o gaúcho do interior chegava na "estação" rodoviária da
capital, ía no banheiro e trocava as bombachas por uma calça lisa
pois sua vestimenta interiorana era motivo de chacotas pelas ruas de
Porto Alegre. Hoje, a gurizada mateia nos parques, vai a shoppings,
eventos culturais, orgulhosos de suas bombachas. Isto já diz tudo.
Mas o mais interessante (e nunca vi ninguém escrever a respeito) é que o
Paixão é uma figura notória (certa feita fomos a Cascavel, PR, nos
apresentar em uma Loja Maçônica e constatei de perto sua popularidade
mesmo fora do Estado) sem saber tocar um instrumento, ou seja, não é
músico, já gravou vários discos mas não é um bom intérprete, não é ator,
não é compositor, não é poeta (embora seja um dos dois fundadores da Estância da Poesia Crioula ainda vivos), e os mais
destacados dentre estas artes que acabei de citar não atingem o nível
carismático de Paixão Côrtes. Isto se deve, meus amigos, a sua dedicação
à pesquisa sobre a cultura de nossa terra, à documentação histórica,
aos registros fidedígnos daquilo que colocou em seus livros, ao seu
devotamento à arte crioula, principalmente no que tange a danças. E,
pasmem os senhores, Paixão Côrtes, que tudo fez pelo resgate e
divulgação de nossa tradição, que deveria ter uma estátua erguida em sua
homenagem em frente ao MTG, hoje é uma figura pouco lembrada dentro do Movimento Tradicionalista Gaúcho. Mas o Rio Grande gaudério te
idolatra, índio velho.
Parabéns, saúde, felicidades e obrigado por
tudo.