Carta de Vespasiano a seu filho Tito
Para júbilo e gáudio dos amantes
dos textos clássicos, segue uma carta do imperador Vespasiano a seu filho Tito:
"22 de junho de 79 d.C.
"Tito, meu filho, estou morrendo. Logo eu serei pó e tu, imperador. Espero
que os deuses te ajudem nesta árdua tarefa, afastando as tempestades e os
inimigos, acalmando os vulcões e os jornalistas. De minha parte, só o que posso
fazer é dar-te um conselho: não pare a construção do Colosseum. Em menos de um
ano ele ficará pronto, dando-te muitas alegrias e infinita memória.
"Alguns senadores o
criticam, dizendo que deveríamos investir em esgotos e escolas. Não dê ouvidos
a esses poucos. Pensa: onde o povo prefere pousar seu clunis: numa privada, num
banco de escola ou num estádio? Num estádio, é claro.
"Será uma imensa propaganda
para ti. Ele ficará no coração de Roma por “omnia saecula saeculorum”, e sempre
que o olharem dirão: 'Estás vendo este colosso? Foi Vespasiano quem o começou e
Tito quem o inaugurou'. "Outra vantagem do Colosseum: ao erguê-lo, teremos
repassado dinheiro público aos nossos amigos construtores, que tanto nos ajudam
nos momentos de precisão.
"Moralistas e loucos dirão
que mais certo seria reformar as velhas arenas. Mas todos sabem que é melhor
usar roupas novas que remendadas.
“Vel caeco appareat” (Até um cego vê isso).
"Portanto deves construir
esse estádio em Roma.
"Enfim, meu filho, desejo-te
sorte e deixo-te uma frase:
`Ad captandum vulgus, panem et
circenses´ (Para seduzir o povo: pão e circo).
"Esperarei por ti ao lado de
Júpiter."
PS: Vespasiano morreu no dia
seguinte à carta. Tito inaugurou o Coliseu com 100 dias de festa. Tanto o pai
quanto o filho foram deificados pelo senado romano.
A propósito de Copas e Olimpíadas
... Continua válida a pergunta de Vespasiano:
– “Onde o povo prefere pousar seu
clunis: numa privada, num banco de escola ou num estádio?”
Assim a gente de Brasília
construirá monumentais estádios em Cuiabá, Recife e Manaus, mesmo que nem haja
ludopédio por esses lugares. Só para se ter uma ideia -
Em Cuiabá, a Arena Pantanal terá
43.600 lugares. No último campeonato de Mato Grosso a média foi inferior a
1.000 pessoas por partida.
Em Recife haverá um novo Estádio,
embora todos os grandes clubes locais já o tenham o seu.
Em Manaus, pior ainda: a Arena
terá 47 mil lugares. No último campeonato estadual, juntando os 80 jogos, o
público total foi de 37.971.
As gentes da Terra Papagalli não
ligaram nem mesmo para o exemplo dos sul-africanos, que construíram 5 novos
estádios e 4 são deficitários.
Vespasiano estava certo – o
grande negócio é construir estádios!
NB. Em latim: clunis: nádegas
Colaboração: Hilton Araldi