sábado, 4 de dezembro de 2010

VOLTEANDO DATAS

Num dia 04 de dezembro, do ano de 1982, morre em Porto Alegre o maior repentista que o sul do país conheceu, ou seja, Leovegildo José de Freitas, mais conhecido como Gildo de Freitas. No mesmo dia, só que no ano de 1985, morreu Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, cantor regionalista mais conhecido do Rio Grande, campeão de vendas no Brasil, desafeto de Gildo de Freitas (ao menos nas cantorias e trovas demonstravam isto) e que, por coincidência de datas, morreram no mesmo dia e mês.

Através da Lei Estadual 8.819/89, o dia 4 de dezembro, data de sua morte, foi instituído como Dia Estadual do Poeta Repentista Gaúcho e do Artista Regional Gaúcho, tendo como patronos, justamente Gildo de Freitas e Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha.

GILDO DE FREITAS

Nasceu em 19 de junho de 1919 no Bairro do Passo d'Areia, Porto Alegre, era filho de Vergílio José de Freitas e Georgínia de Freitas.

Consagrado na tradicional “Mi Maior de Gavetão”, em versos de sextilhas, acabou criando um estilo próprio, nos dias de hoje muito difundido pelos trovadores do Rio Grande do Sul. Foi, também, compositor de grande talento e algumas de suas obras tornaram-se verdadeiros clássicos do cancioneiro gaúcho, como é o caso de “Eu Reconheço que Sou Grosso”.

Cronologia de Gildo de Freitas

1931 - Gildo foge de casa pela primeira vez, aos 12 anos.

1937 - É tido como desertor, por não ter se apresentado à convocação militar. Envolve-se na primeira briga séria, onde morre um jovem amigo. Primeira prisão. Cria ódio da polícia.

1941 - Casamento com dona Carminha. Passa a ter morada fixa no bairro de Niterói, em Canoas, Grande Porto Alegre. Continuam os contratempos com a polícia.

1944 - Nasce o primeiro filho depois de dois perdidos. Gildo começa a viajar bastante e a ser reconhecido como trovador.

1949 - Trovador com fama ascendente em todo o Rio Grande do Sul, desaparece de casa e reaparece na fronteira gaúcha. Em longa temporada passada no Alegrete, mal consegue caminhar, com problema de paralisia nas pernas.

1950/51 - Em São Borja, conhece Getúlio Vargas e entra em sua campanha política. Param as perseguições policiais. Primeira viagem ao Rio de Janeiro.

1953/54 - Faz fama como trovador nos progamas de rádio ao vivo em Porto Alegre. Volta à viver no Passo d`Areia, com a família.

1955 - Encontro e identificação como Teixeirinha. Muitas viagens. Mudança para o bairro Passo do Feijó e abertura do primeiro bolicho.

1956/60 - Maior atração do progama Grande Rodeio Coringa dos domingos à noite. Mais viagens com Teixeirinha.

1961/62 - Declínio dos progamas de rádio ao vivo, televisão começando. Gildo resolve largar de mão a "cantoria" e inventa de criar porcos.

1963 - Viagem a São Paulo para gravar o primeiro disco.

1964 - É lançado o primeiro LP. Em meados do ano é "convidado" a prestar depoimento sobre suas ligações com o trabalhismo.

1965 - Início da célebre disputa com Teixeirinha através dos discos. Jango o convida para viver no Uruguai e ele não aceita.

1970/77 - Várias internações em hospitais, sucesso popular das gravações, muitas viagens. A "briga" com Teixeirinha chega ao auge. Mudança para Viamão.

1978 - Inaugura em Viamão a Churrascaria Gildo de Freitas e dá início aos bailões.

1982 - Grava o último disco, para a mesma gravadora dos outros todos, Continental. Última internação em hospital, últimas aparições públicas em programas de TV. Morte em 4 de dezembro.

VITOR MATEUS TEIXEIRA, Teixeirinha.

Nasceu na cidade de Rolante, distrito de Mascaradas, Rio Grande do Sul, em 03 de março de 1927. Filho de Saturno Teixeira e Ledurina Mateus Teixeira, teve um irmão e duas irmãs.

Aos seis anos de idade perdeu o pai e aos nove anos a mãe. Ficando órfão foi morar com parentes, mas estes como não tinham condições de sustentá-lo, saiu pelo mundo fazendo de tudo um pouco, como: trabalhou em granjas do interior e quando veio para Porto Alegre carregou malas em portas de pensões, vendeu doces como ambulante, entregador de viandas, vendeu jornais, enfim fazia qualquer atividade para poder sobreviver.

Com Dezesseis anos se auto-registrou como Cidadão Brasileiro. Aos dezoito anos se alistou no Exército, mas não chegou a servir, quando nesta ocasião foi trabalhar no DAER (Departamento de Estradas de Rodagem), como operador de máquinas durante seis anos. Dali saiu para tentar a carreira artística cantando nas rádios das cidades do interior, tais como: Lajeado, Estrela, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, nesta última conheceu sua esposa Zoraida Lima Teixeira. Casaram-se em 1957 e foram morar em Soledade, em seguida mudaram-se para Passo Fundo, onde compraram um “Tiro ao Alvo” que era cuidado por ele e sua esposa e a noite Teixeirinha se apresentava na Rádio Municipal de Passo Fundo.

Em 1959 foi convidado para gravar em São Paulo. Viajou na segunda classe de um trem. Gravou seu primeiro 78RPM, de um lado a música “Xote Soledade” e do outro lado “Briga no Batizado”.

Segundo depoimento de um dos membros da Gravadora Chantecler, Dr. Biaggio Baccarin, o sucesso assim aconteceu:
“A sigla PTJ, no 78 RPM, abrigava três nomes: Palmeira, Teddy e Jairo, então diretores da Chantecler e fundadores do selo sertanejo. Como se constata, “Coração de Luto” ocupou o lado “B” do quarto disco gravado por Teixeirinha, o qual foi lançado sem qualquer preocupação de sucesso, no entanto aconteceu espontaneamente após seis meses de seu lançamento. As primeiras reações vieram de Sorocaba/SP e em pouco tempo já era sucesso nas demais cidades da região. Foi nessa ocasião que a gravadora Chantecler resolveu trazer o cantor para São Paulo a fim de trabalhar o disco, cujo trabalho teve início com um show na cidade de Sorocaba/SP e, posteriormente, nas demais cidades do Estado de São Paulo, até o triângulo mineiro.

O sucesso aconteceu em todo o Brasil, com venda superior a um milhão de cópias no ano de 1961. Um acontecimento inédito na história da música popular brasileira. Para se ter idéia deste fato, o disco Coração de Luto chegou a ser vendido no câmbio negro em Belém do Pará, havia fila para comprá-lo. A gravadora não tinha condições de atender os pedidos e era obrigada a distribuir cotas para cada loja. O fato de Belém do Pará foi registrado pelo saudoso Edgard Pina, então agente da Chantecler naquela capital”.

Teixeirinha voltou a Passo Fundo, vendeu o “Tiro ao Alvo” e se mudou para Porto Alegre. Foi chamado novamente pela Chantecler, desta vez para morar na capital paulista e continuar a divulgação do sucesso de Coração de Luto, no entanto, recusou domiciliar-se em São Paulo, voltando para Porto Alegre.

Com o que ganhou na excursão em São Paulo, comprou uma casa, no bairro da Glória em Porto Alegre, onde viveu toda sua vida e uma Kombi para viajar por todo o Brasil. Então, definitivamente Teixeirinha assumiu a carreira artística, passando a trabalhar em circos, parques, teatros, cinemas e demais casas de espetáculos. Como o próprio cantor relatou em uma de suas últimas entrevistas à imprensa: “... onde o povo me pediu para estar, eu fui...”(RBS/TV- julho/1985).

Teixeirinha começou a viajar para todo o Brasil como o “Gaúcho Coração do Rio Grande”. Em 1963, ganhou o troféu “Chico Viola” outorgado pela TV Record de São Paulo, no programa “Astros do Disco”, um programa de gala da televisão brasileira e tinha por objetivo premiar os melhores dos discos de cada ano e Teixeirinha ganhou por ter sido o cantor campeão de vendagem por dois anos consecutivos, 1962/1963.

Internacionalmente ganhou o troféu “Elefante de Ouro” como maior vendagem de discos em Portugal.

Em 1964, Teixeirinha escreveu a história do filme “Coração de Luto”, que foi produzido pela Leopoldis Som, em 1966, outro recorde de bilheteria. Em 1969, encenou no filme “Motorista sem Limites” juntamente com Valter D’Avila, produzido por Itacir Rossi.

Em 1970 criou sua própria produtora “Teixeirinha Produções Artísticas Ltda, pela qual escreveu, produziu e distribuiu dez filmes, quais sejam: “Ela Tornou-se Freira” (1972); “Teixeirinha 7 Provas”(1973); “Pobre João” (1974); “A Quadrilha do Perna Dura” (1975); “Carmem a Cigana (1976); “O Gaúcho de Passo Fundo”(1978) ; “Meu Pobre Coração de Luto”(1978); Na trilha da Justiça (1978); “Tropeiro Velho” (1980); “A Filha de Iemanjá” (1981).

Durante vinte anos, apresentou programas de rádio diariamente com duas edições: “Teixeirinha Amanhece Cantando” (de manhã) e “Teixeirinha Comanda o Espetáculo” (a noite) e “Teixeirinha Canta para o Brasil”(domingos, pela manhã) em diversas rádios da capital, com transmissão para o interior e outros estados brasileiros.

Recebeu nove discos de ouro, foi cidadão emérito de vários municípios como: Passo Fundo, Santo Antônio da Patrulha, Rolante e etc.

Em 1973 foi contratado para fazer quinze apresentações nos Estados Unidos da América. Em 1975 foi para o Canadá, onde realizou dezoito espetáculos. Fez shows na maioria dos países da América do Sul.

Teve nove filhos: Sirley Marisa; Líria Luisa; Victor Filho; Margareth; Elizabeth; Fátima Lisete; Márcia Bernadeth; Alexandre e Liane Ledurina.

Durante vinte e dois anos Mary Terezinha lhe acompanhou com acordeon em shows, rádio e cinema.

Gravou 49 Lps inéditos, com mais de 70 Lps, incluindo regravações, atualmente sendo todos reeditados em disco laser, gravando mais de 700 músicas de sua autoria, deixando um acervo superior a 1200 composições de sua lavra.

Teixeirinha faleceu dia 04 de dezembro de 1985 e está sepultado no Cemitério da Santa Casa, quadra n.4, túmulo n.4, na capital gaúcha.

Túmulo de Teixeirinha. Foto LRS