Como já faz tempo que não publico um causo de galpão e temos aí um domingo de politicagem correndo solta pelas ruas e parques deste meu Brasil, vou contar de uma que aconteceu no saudoso CTG Rancho Colorado, na antiga e legendária Aratinga de minha infância.
Corria a década de sessenta, vésperas das eleições no município de São Francisco de Paula. Um dos candidatos a prefeito que, sinceramente, não me recordo o nome, tinha comício marcado naquele lugarejo ermo, mas com uma farta mesa eleitoral visto que ali existia uma sub-prefeitura do município.
A churrascada ia correr solta e os preparativos eram grandes pois naquelas bandas, além dos comícios, só carreira, velório e festa do padroeiro para juntar tanta gente. O sub-prefeito Ivo Capaverde, apoiador do candidato em questão, era o encarregado dos pormenores da festa.
Acompanhavam a comitiva diversos candidatos a vereadores e alguns artistas que tinham a função de alegrar o ambiente. Dentre estes, um trovador de Gravataí que vinha com os versos “na manga” exaltando o fulano candidato. Era de praxe convidar algum cantador ou gaiteiro da localidade para “valorizar” o povo visitado. Aí é que entra na história o Rabelo Berrão.
O Rabelo Berrão era um gringo metido a fazedor de verso que se aquerenciou pela Aratinga e vivia de pequenos biscates. Dizem que era um bom mecânico mas como por lá a maioria da força motora era na pata de cavalo, o Rabelo não tinha muita função. Consertava uma tombadeira aqui, um trator ali, e assim, como a mulher era professora municipal, ia se defendendo. No mais, vivia no bolicho do Seu Albérico fazendo verso e bebendo. De beberrão é que veio o apelido Rabelo (berrão).
Ficou então definido que o Rabelo faria uns versos, representando a Aratinga, com o trovador de Gravataí. Tudo muito recomendado para que não se emborrachasse na véspera nem fizesse cantoria que fosse contra o candidato.
Chegado o dia, domingo ensolarado, gente saindo pelo ladrão do Rancho Colorado, discurso pra cá, discurso pra lá, promessas e mais promessas. O trovador gravataiense num canto do balcão, já entre um trago e outro, combinou informalmente com o Rabelo para trovarem no estilo Gildo de Freitas que estava muito em moda pelas redondezas da capital. O galo da Aratinga, embora não muito manso com a métrica desta trova, topou a parada.
Pois a trova ia mais ou menos bem com a torcida local toda para o Rabelo Berrão quando o trovador de Gravataí, vendo que estava perdendo terreno, esqueceu dos elogios para o seu candidato e começou a dar “puaços” no Rabelo. O gringo, já meio ofendido com os versos provocativos, não deixava por menos. Foi então que aconteceu a desgraça; O trovador da grande Porto Alegre, levando a mão na genitália, terminou seu verso assim: “.... hoje tu engole meu osso”.
Correu um calafrio nas autoridades presentes. Rabelo Berrão, envermelhou, branqueou, esverdeou e sem querer saber aonde e com quem estava respondeu à altura:
- Hoje tu engole meu osso
não sou assim como tu,
eu sou da velha Aratinga
onde gorjeia o inhandu,
se tu é um lenha-podre
eu sou pau-de-guabiju,
me adesculpe seu moço
mas cusco que engole osso
tem confiança no seu c...!
Não precisa dizer que o comício, entre uma porção de panos mornos, foi esmorecendo ali mesmo.
causo recolhido e escrito por Léo Ribeiro
Corria a década de sessenta, vésperas das eleições no município de São Francisco de Paula. Um dos candidatos a prefeito que, sinceramente, não me recordo o nome, tinha comício marcado naquele lugarejo ermo, mas com uma farta mesa eleitoral visto que ali existia uma sub-prefeitura do município.
A churrascada ia correr solta e os preparativos eram grandes pois naquelas bandas, além dos comícios, só carreira, velório e festa do padroeiro para juntar tanta gente. O sub-prefeito Ivo Capaverde, apoiador do candidato em questão, era o encarregado dos pormenores da festa.
Acompanhavam a comitiva diversos candidatos a vereadores e alguns artistas que tinham a função de alegrar o ambiente. Dentre estes, um trovador de Gravataí que vinha com os versos “na manga” exaltando o fulano candidato. Era de praxe convidar algum cantador ou gaiteiro da localidade para “valorizar” o povo visitado. Aí é que entra na história o Rabelo Berrão.
O Rabelo Berrão era um gringo metido a fazedor de verso que se aquerenciou pela Aratinga e vivia de pequenos biscates. Dizem que era um bom mecânico mas como por lá a maioria da força motora era na pata de cavalo, o Rabelo não tinha muita função. Consertava uma tombadeira aqui, um trator ali, e assim, como a mulher era professora municipal, ia se defendendo. No mais, vivia no bolicho do Seu Albérico fazendo verso e bebendo. De beberrão é que veio o apelido Rabelo (berrão).
Ficou então definido que o Rabelo faria uns versos, representando a Aratinga, com o trovador de Gravataí. Tudo muito recomendado para que não se emborrachasse na véspera nem fizesse cantoria que fosse contra o candidato.
Chegado o dia, domingo ensolarado, gente saindo pelo ladrão do Rancho Colorado, discurso pra cá, discurso pra lá, promessas e mais promessas. O trovador gravataiense num canto do balcão, já entre um trago e outro, combinou informalmente com o Rabelo para trovarem no estilo Gildo de Freitas que estava muito em moda pelas redondezas da capital. O galo da Aratinga, embora não muito manso com a métrica desta trova, topou a parada.
Pois a trova ia mais ou menos bem com a torcida local toda para o Rabelo Berrão quando o trovador de Gravataí, vendo que estava perdendo terreno, esqueceu dos elogios para o seu candidato e começou a dar “puaços” no Rabelo. O gringo, já meio ofendido com os versos provocativos, não deixava por menos. Foi então que aconteceu a desgraça; O trovador da grande Porto Alegre, levando a mão na genitália, terminou seu verso assim: “.... hoje tu engole meu osso”.
Correu um calafrio nas autoridades presentes. Rabelo Berrão, envermelhou, branqueou, esverdeou e sem querer saber aonde e com quem estava respondeu à altura:
- Hoje tu engole meu osso
não sou assim como tu,
eu sou da velha Aratinga
onde gorjeia o inhandu,
se tu é um lenha-podre
eu sou pau-de-guabiju,
me adesculpe seu moço
mas cusco que engole osso
tem confiança no seu c...!
Não precisa dizer que o comício, entre uma porção de panos mornos, foi esmorecendo ali mesmo.
causo recolhido e escrito por Léo Ribeiro