AOS SONETISTAS
A pedido do presidente da Estância da Poesia Crioula, Cândido Brasil, sou um dos avaliadores do concurso de sonetos em homenagem a saudosa Nilza Castro, promovido pela Academia Xucra do Rio Grande. Recebemos 186 sonetos, um estilo poético pouquíssimo utilizado atualmente.
Na verdade fazer um bom soneto, bem metrificado, com tema interessante, não é nada fácil. Por isso lembro do mestre Aureliano de Figueiredo Pinto, um grande sonetista.
QUERÊNCIA
Aureliano de Figueiredo Pinto - Para o velho Domingos
I
Recordo... Um coxilhão, virgem do arado,
alto e estendido na campanha em frente.
Resfolegando a névoa ao sol nascente.
Na noite negra era um fortim sitiado.
Sombrio sob o crepúsculo indolente
nos paradouros acolhia o gado.
Promontório nas rotas d’ El-Dorado
ao luar e aos sonhos de um adolescente.
Tristão no inverno... Esplêndido na sanha
do estio fugindo... No horizonte aberto
a galopada das miragens foge.
Tão longe... E ainda a paisagem me acompanha
com o encanto das ilhas que no oceano incerto
as minhas naves descobrissem hoje...
II
Por toda parte onde eu andei, Querência,
pedaço de alma, te levei comigo.
A proteger-me como um poncho amigo,
ou estrela d´alva nos sertões da ausência.
Andante, chego ao teu galpão de abrigo.
Fogão e amargo! A missioneira essência.
E, pelo teu conselho em confidência,
forjei meu coração para o perigo.
Quantas vezes na ronda a noite andando
vieste em recuerdos, como irmã, sorrindo,
adoçando a amargura da inclemência.
Por ti, na vida e no lidar em que ando,
a sorte, ou contra ou a favor, vem lindo!
só pelo orgulho de te honrar – Querência!
