ATA QUE PROCLAMOU A
REPÚBLICA RIO-GRANDENSE
No dia 12 de setembro de 1836, dois dias após a fulgurante vitória na Batalha do Seival, enquanto ainda enterravam seus mortos e curavam suas feridas, foi redigida a famosa ata que registrou a vontade dos Farrapos em relação a proclamação da República Rio-Grandense.
Eis uma resenha sobre o tema, extraída do livro de Walter Spalding pelo pesquisador Paulo Mena:
"Os soldados deliraram de
entusiasmo e as aclamações pareciam não terminar mais. Momentos depois, ali no Passo das Pedras, comemorava-se no meio da mais franca cordialidade, com um
grande churrasco, a magna data. E não faltaram, também, os improvisos.
Violas e gaitas faziam-se ouvir nas
notas da «Tirana....
Mas os versos eram outros: celebravam a data e celebravam o herói:
Dia 12 de setembro
dia grato e soberano,
em que no Seival soou
o grito republicano!
Na tarde do mesmo dia 12, enquanto
os soldados se distraiam pelo acampamento, reuniram-se os oficiais e
comandantes na barraca do coronel Neto, já promovido a general por aclamação
unânime de seus companheiros e comandados, para se deliberar definitivamente
sobre os sucessos do dia. Dessa reunião e do que nela se tratou foi lavrada a
seguinte Ata:
Bravos companheiros da 1ª Brigada
de Cavalaria!
Ontem obtivestes o mais completo triunfo sobre
os escravos da Corte do Rio de Janeiro, a qual, invejosa das vantagens locais
de nossa província, faz derramar sem piedade o sangue de nossos compatriotas,
para deste modo fazê-la presa de suas vistas ambiciosas. Miseráveis! Todas as
vezes que seus vis satélites se têm apresentado diante das forças livres, têm
sucumbido, sem que este fatal desengano os faça desistir de seus planos
infernais. São sem número as injustiças feitas pelo Governo. Seu despotismo é o
mais atroz. E sofreremos calados tanta infâmia? Não, nossos companheiros, os
rio-grandenses, estão dispostos, como nós, a não sofrer por mais tempo a
prepotência de um governo tirânico, arbitrário e cruel, como o atual. Em todos
os ângulos da província não soa outro eco que o de independência, república,
liberdade ou morte. Este eco, majestoso, que tão constantemente repetis, como
uma parte deste solo de homens livres, me faz declarar que proclamemos a nossa
independência provincial, para o que nos dão bastante direito nossos trabalhos
pela liberdade, e o triunfo que ontem obtivemos, sobre esses miseráveis
escravos do poder absoluto.
Camaradas! Nós que compomos a 1ª
Brigada do Exército Liberal, devemos ser os primeiros a proclamar, como
proclamamos, a independência desta província, a qual fica desligada das demais
do Império, e forma um estado livre e independente, com o título de República
Rio-grandense, e cujo manifesto às nações civilizadas se fará competentemente.
Campo dos Menezes, 11 de setembro
de 1836 – Antônio de Sousa Neto, coronel-comandante da 1ª brigada.”
Então
Neto, agora aclamado General, toma a palavra e proclama a república:
“Camaradas! Gritemos pela primeira vez: viva a República Rio-grandense!
Viva a independência! Viva o exército republicano rio-grandense!”