RETRATO DA SEMANA

RETRATO DA SEMANA
Recuerdos da companheirada e do velho parceiro (Mouro Negro).

segunda-feira, 25 de novembro de 2024



 TOLSTOI FUGIU DE CASA 


Tolstoi, no leito de morte, na estação de Astapovo.


POEMA DA GARE DE ASTAPOVO, 

de Mário Quintana (Alegrete, 30 de Julho de 1906 — Porto Alegre, 5 de Maio de 1994).


O velho Leon Tolstoi fugiu de casa aos oitenta anos

e foi morrer na gare de Astapovo!

Com certeza sentou-se a um velho banco,

um desses velhos bancos lustrosos pelo uso

que existem em todas as estaçõezinhas pobres do mundo

contra uma parede nua…

Sentou-se …e sorriu amargamente

pensando que em toda a sua vida

apenas restava de seu a Glória,

esse irrisório chocalho cheio de guizos 

e fitinhas coloridas

nas mãos esclerosadas de um caduco!

E então a Morte,

ao vê-lo tão sozinho àquela hora

na estação deserta,

julgou que ele estivesse ali à sua espera,

quando apenas sentara para descansar um pouco!

A morte chegou na sua antiga locomotiva

(Ela sempre chega pontualmente na hora incerta…)

mas talvez não pensou em nada disso, o grande Velho,

e quem sabe se até não morreu feliz: ele fugiu…

Ele fugiu de casa…

Ele fugiu de casa aos oitenta anos de idade…

Não são todos que realizam os velhos sonhos da infância!.