QUERÊNCIA
Aureliano de Figueiredo Pinto - Para o velho
Domingos
I
Recordo... Um coxilhão, virgem do arado,
alto e estendido na campanha em frente.
Resfolegando a névoa ao sol nascente.
Na noite negra era um fortim sitiado.
Sombrio sob o crepúsculo indolente
nos paradouros acolhia o gado.
Promontório nas rotas d’ El-Dorado
ao luar e aos sonhos de um adolescente.
Tristão no inverno... Esplêndido na sanha
do estio fugindo... No horizonte aberto
a galopada das miragens foge.
Tão longe... E ainda a paisagem me acompanha
com o encanto das ilhas que no oceano incerto
as minhas naves descobrissem hoje...
II
Por toda parte onde eu andei, Querência,
pedaço de alma, te levei comigo.
A proteger-me como um poncho amigo,
ou estrela d´alva nos sertões da ausência.
Andante, chego ao teu galpão de abrigo.
Fogão e amargo! A missioneira essência.
E, pelo teu conselho em confidência,
forjei meu coração para o perigo.
Quantas vezes na ronda a noite andando
vieste em recuerdos,
como irmã, sorrindo,
adoçando a amargura da inclemência.
Por ti, na vida e no lidar em que ando,
a sorte, ou contra ou a favor, vem lindo!
só pelo orgulho de te honrar – Querência!