O MALDITO IMPROVISO
Sou um gaúcho que aprecia a arte da trova e da pajada por mexerem com a criatividade de quem participa dos desafios. A trova tradicional (mi maior de gavetão), a trova do martelo, a trova estilo Gildo de Freitas, bem como a pajada (sim, a pajada verdadeira é feita de improviso), quando bem executadas demonstram engenhosidade, fecundidade, imaginação do rude peão de fazenda aos mais letrados improvisadores.
Só tem um detalhe. Tanto o trovador quanto o pajador representam a si mesmo. Se acontecer alguma gambiarra em meio a sua apresentação ele é quem arca com as consequências e com as chacotas de seu erro. Já vi os maiores em cada segmento, Gildo de Freitas e Jayme Caetano Braun, dizerem grandes impropérios para forçar a rima final.
Mas quando a pessoa representa um clube, uma comunidade, uma nação, ou seja, outras pessoas além de si, deixa de ser algo individual e a responsabilidade triplica.
Por esse motivo acho que nosso presidente foi infeliz (assim como seu antecessor já o foi diversas vezes em seus pronunciamentos de improviso) em comparar o que está acontecendo em Gaza com o Holocausto, a maior tragédia humanitária da história. E não estou defendendo, aqui, nenhum lado da moeda pois acho que todos estão errados.
Com certeza os governantes tem uma equipe que redige seus textos obedecendo tópicos recomendados por quem irá fazer a leitura. Tais conteúdos são revisados diversas vezes. Que se atenham a eles e guardem seus malditos improvisos para quando estiverem em um palanque, em um comício falando para seus correligionários que a tudo aplaudem e dizem amém (sejam eles de que partido for) ou então que designem tais tarefas aos nossos grandes trovadores e pajadores. Tenho certeza que as rateadas serão bem menores.