06 DE JANEIRO - DIA DE REIS
MORRE BAIANO CANDINHO
Na madrugada do dia 06 de janeiro de 1898, o controvertido Baiano Candinho foi morto por falsos cantores de Reis. A história deste personagem desertor da Guerra do Paraguai que venho pesquisando a algum tempo foi publicada de forma resumida esta semana pelo jornalista Ricardo Chaves, em sua coluna na ZH, fato pelo qual agradeço.
Para facilitar a leitura daqueles que não puderam acompanhar, transcrevemos a matéria abaixo.
06 DE JANEIRO - DIA DE REIS
MORRE BAIANO CANDINHO
Martim Pereira dos Santos, filho de José Pereira dos Santos e
Rosa Maria dos Santos, nascido em 1846 no sertão do Ceará, que utilizava o nome
de soldado de Cândido da Silveira, ficou conhecido como Baiano Candinho –
naquela época as pessoas de origem nordestina eram taxados de baianos Sul do
país.
Embora diversos livros como Noite de Reis, de Fernandes
Bastos, se debrucem sobre esta figura emblemática, os relatos sobre Baiano
Candinho são contraditórios e carecem de uma pesquisa com muito cuidado visto
que, ainda hoje, o assunto fervilha e causa incômodos pelas localidades de Três
Forquilhas, Itati e na boca da Serra do Pinto, hoje Rota do Sol.
Foram quase 30 anos desde sua chegada com alguns parceiros –
segundo alguns historiadores como desertores da Guerra do Paraguai - ali por
esta região povoada por colonizadores alemães a beira da BR 101, isto no fim da
década de 1860 e até 1895. Sua intenção era voltar ao Ceará, mas por ali se
aquerenciou.
O que se pode adiantar é que Baiano Candinho, por sua
experiência militar, por sua valentia, angariou muitos admiradores e inimigos
ao mesmo tempo. Foi taxado, inclusive, como um "Robin Hood", isto é,
roubava dos fazendeiros no Alto Josaphat (em cima da serra) e os revendia, ou
doava, na região em que morava no Baixo Josaphat. Através do medo, ou do
respeito, Baiano Candinho, a pedido do Major Voges, autoridade local, fazia o
controle e a “segurança” de toda a serra com o seu Bando do Pinto. "Era a
raposa cuidando do galinheiro" segundo seus inimigos políticos e pessoais.
Candinho teve muitas mulheres na Colônia. A princípio viveu
com a jovem viúva Anna Carolina Kratz, nascida Müller. Ela não podia ter filhos
e, além disso, faleceu cedo. Candinho herdou sua propriedade.
Em 1879 ao se unir com a viúva Maria Witt ele tornou-se
protestante. Casou no dia 15 de abril de 1879. Um mês depois, foi ao Cartório,
registrar essa união, no dia 18 de maio. Na oportunidade alegou ser analfabeto
e ter apenas 25 anos de idade, apresentando o nome falso de Cândido Alves da
Silveira. O assentamento do registro civil pode ser encontrado no Livro de
Casamentos nº 01, folha 07 do Cartório do Registro Civil, de Itati. Foram
testemunhas o Major Adolfo Felipe Voges e o Professor Serafim Agostinho do
Nascimento. Com Maria Witt teve sete filhos, além de outros três
extraconjugais.
Na Revolução Federalista de 1893 foi líder Maragato aonde
chefiou o Esquadrão Josaphat. Com a assinatura do armistício dando fim a Revolução,
tiveram que depor suas armas e voltar a vida comum de colonos e peões. Contudo,
o Capitão Luna e o Tenente Valdo Crespo, dois desertores das brigadas
castilhistas continuaram com suas vidas de arruaças e saques por toda a região
tendo como refúgio a "Grota da Onça", na localidade de Contendas, São
Francisco de Paula. Enrique Baiano, enteado de Baiano Candinho, integrava esse
bando sendo considerado um dos piores elementos do grupo. Tido como estuprador
e saqueador de famílias indefesas acabou sendo expulso após matar um
companheiro de atrocidades. A culpa ou responsabilidade recaía em seu padrasto
Candinho.
Para fugir das possíveis perseguições, Baiano Candinho foi
ser peão de fazenda no alto da serra aceitando o convite do seu amigo e
correligionário Coronel Batista. Após seis meses de trabalho nas lides de campo
sua esposa Maria Witt veio a falecer ao cair de um cavalo. Isto desnorteou
Candinho que, junto aos filhos menores e alguma criação (gado e cavalo) voltou
para sua antiga morada no pé da serra.
Por lá ainda existiam os integrantes do Estado Maior do
extinto Esquadrão Josaphat como o Luis da Conceição, o França Gross, os filhos
e genros do falecido João Patrulha, o Baiano Tonho, o José Baiano e o João
Baiano.
Talvez o retorno de Baiano Candinho ao Baixo Josaphat tenha
sido seu maior erro pois a ditadura castilhista, em todo o Rio Grande do Sul,
vinha retalhando seus antigos opositores. Ali pelas bandas das Três Forquilhas
não seria diferente tornando-se uma rotina as ciladas, emboscadas e verdadeiras
encenações envolvendo, inclusive, cultos evangélicos de tradição luterana, tudo
com o propósito de aniquilar sumariamente os "bandidos" maragatos.
Para tanto foi mandado para a Colônia de Três Forquilhas, a
pedido do líder castilhista Coronel Carlos Voges, o Tenente Manoel Vicente
Cardoso, especialista na caça de maragatos num serviço de "limpeza"
com vistas às próximas eleições. Baiano Candinho, por sua liderança política,
era um dos mais visados, embora, de início, ele tenha sido
"convocado" em algumas reuniões com o intuito de ajudar a terminar
com o Bando do Pinto.
Na verdade esta aproximação amistosa com Candinho era um
embuste, uma preparação para o bote. O tenente Manoel Vicente Cardoso trazia no
bolso do casaco fotografias dos "bandidos federalistas" que em 1895
invadiram Conceição do Arroio, hoje Osório, levando medo e humilhação aos seus
moradores. Baiano Candinho era um deles...
E foi assim que, entre idas e vindas, num ambiente tenso,
passou-se quase dois anos até que, na noite de 05 para 06 de janeiro de 1898 o
subdelegado de Três Forquilhas, tenente Cardoso, com seus dois auxiliares mais
chegados, cabo José Pedro Custódio da Silva e o soldado João Macaco realizaram
a estratégia de montar um Terno de Reis para surpreender Baiano Candinho, um
nordestino devoto, na hora que recebesse os cantadores em sua morada. Tudo deu
certo.
"O Divino Espírito Santo seja sempre o seu guia.
O Divino Espírito Santo te dê toda proteção.
Santos Reis protejam o Seu Baiano Candinho
e toda sua família, que vivem neste cantinho".
.... e lá se foi Baiano Candinho, candeeiro numa das mãos,
oferenda aos cantadores na outra, no breu da noite, desarmado de ferro branco e
de espírito, ao encontro da morte no pátio de sua casa.
Depois da emboscada o tenente Manoel Vicente Cardoso não
queria liberar o corpo para sepultamento e nem certidão de óbito, o que foi
conseguido, a muito custo pelos familiares, com ajuda de Carlos Voges,
autoridade maior do PRR Castilhista no Vale das Três Forquilhas.
Num caixão rústico, Baiano Candinho foi sepultado no
Cemitério dos Maragatos, ou Cemitério dos Bandidos, na costa do Rio Carvalho.