ACASO SEREI YO, SEÑOR?
O escritor e jornalista Carpinejar em uma de suas colunas de ZH escreveu algo que é a mais pura verdade e que eu nunca tinha pensado sobre o assunto.
O título da coluna é Tenho Uma Filha de 30 Anos.
No texto ele descreve sobre nossas homenagens aos aniversariantes aonde nos reportamos mais a nós mesmos do que aos próprios que festejam seu dia de nascimento.
Seria vaidade? Seria algo inconsciente?
Diz Carpinejar:
Em toda a homenagem de aniversário, você mal fala do outro, mas de si: do quanto ele melhorou a sua vida, do quanto você mudou por ele, do quanto você se tornou mais alegre, mais disposto, rejuvenesceu, aprendeu tarefas novas, foi para lugares diferentes, assimilou hábitos saudáveis, evoluiu o comportamento.
No fim ninguém fica sabendo de quem você está falando. O agradecimento é direcionado inteiramente ao autoelogio, numa propaganda pessoal de como é inesquecível viver sem você.
Coloca fotos dos dois, de cenas de amor e amizade entre vocês. Tem que aparecer sempre. Não consegue celebrar uma biografia de modo incondicional e altruísta.
Você se vende e se compra a partir do aniversariante. Transforma-o em seu refém para redigir a sua própria carta de recomendação.
Existe uma advertência implícita na mensagem: não fique longe de mim, porque nunca encontrará alguém como eu.
Somos contaminados pelo narcisismo. Não se trata de uma atitude proposital. É um sintoma de nossa época egoica, de nossa cultura da imagem.
O texto me serviu como uma luva mas eu estenderia este egocentrismo - que é o fundamento da matéria - não somente em relação aos aniversários mas para 90% das postagens que fazemos.
Eis as fotos que postei do mais recente aniversário que fui, o do Gildinho dos Monarcas (baita festa) e por isso o título: Acaso serei yo Señor ?