QUANDO SE VAI UM IRMÃO
A
gente vem pra este mundo
como
o destino escolheu.
Uns,
caboclos como eu
criados
num campo fundo.
Hay
quem não largue um segundo
o
seu jeitão entonado,
tem
os que nascem jogados
como
filhos de perdiz
e
tem quem brote feliz
pela
fartura rodeado.
Dizia
Jayme Caetano:
-
Tudo isso desaparece,
tudo,
no mais, se parece
quando
a gente abrir os panos.
Os
sonhos, os desenganos,
num
piscar já não são nada.
Viramos
poeira da estrada
e
quem habita o mausoléu
tem
o mesmo espaço no céu
que
o peão da cruz falquejada.
Mas
tem uma coisa que fica
pairando
na vós dos ventos,
peleando
a tapa com o tempo,
murmurando
pelas bicas.
Pra
mim, a coisa mais rica
de
tudo aquilo que temos
é
a postura que mantemos
no
ir e vir das andanças.
Esta
é a nossa herança:
-
o que de bom nós fizemos -
Me
digam quem sente falta
de
algum bandido ou ladrão?
Quem
é que guarda paixão
por
quem mata, quem assalta?
Lá
o fundo o peito exalta
o
tombar de um calaveira.
-
Lá se vai mais um porqueira.
a
gente fala, brincando,
quando
um destes vai cruzando
a
cancela derradeira.
Mas quando um Irmão obedece
ao
chamado do Arquiteto?
Ah...
sob um cortejo discreto
as
nossas almas padecem.
As
colunas estremecem
e
do Sul ao Oriente
há
um sentimento plangente
pelo
adeus que não tem volta
e
uma lágrima se solta
do
Olho Onividente.
Quando
o Pai reculuta
um Irmão em tantos nomes
sabe
que ali vai um homem
que
poliu a pedra bruta,
que
suas armas, nestas lutas,
foram
ideais libertários.
Um Irmão é voluntário
quando
a prosa é independência
dos
porões da inconfidência
aos
farrapos legendários.
E
é por isso, no mais,
que
ao ir um Irmão fraterno
rumando
o Oriente Eterno
a
terra dá seus sinais.
Na
lagoa os juncais
se
inclinam em reverência,
flores
exalam essências,
bem-te-vis
gorjeiam cantos,
nuvens
cinzas tecem um manto
como
enlutando a querência.
E
não importa ao supremo
joias,
medalhas, diplomas,
o
que interessa, o que soma,
são
gestos, atos, exemplos.
É
construir o seu Templo
com
amor e devoção
crer
no poder de união
e
aplicar o aprendizado.
Não
adianta Grau elevado
sem
atitudes de Irmão.
Mas
um Irmão não falece,
tal
qual não morre a bondade.
Ele
fica na saudade
pois
saudade não envelhece.
Fica
nas horas de prece,
na
Loja, em cada Sessão,
na
lenda de Salomão,
no
brilho da pentagrama,
renascendo
a cada chama
das
brasas do coração.