RETRATO DA SEMANA

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sexta-feira, 25 de novembro de 2022

 

O AVESSO DO CÉU


pampa gaúcho


Gostei por demais da coluna de quinta-feira, dia 24, do jornalista e escritor Fabrício Carpinejar, sobre o pampa gaúcho. Como é bonito ler um texto de alguém que escreve bem, que usa das palavras para nos transportar sem que saiamos do lugar, que põe manojos de poesias em cada frase. 

Por ser algo extenso, postamos fragmentos da citada coluna:

"...não há maior experiência de liberdade do que correr sem marcação, sem um limite, pelo pampa aberto. Em cima do cavalo ou em cima das alpargatas. 

O ar é mais cerrado na campanha, o clima temperado com as estações bem definidas. Mergulhamos de repente no universo de Gulliver. Tornamo-nos formigas, miniaturas, dentro de uma cuia de chimarrão. 

Lembrei-me do verso que o compositor argentino Atahualpa Yupanqui ouviu de um camponês: O pampa é o avesso do céu. 

O que mais impressiona é que o pampa parece se unir mesmo ao firmamento nos declives das coxilhas, como se fossem um único elemento indivisível, com as nuvens pastando por engano na planície.

É a nossa sensação mais contundente de infinito, nossa escola de saudade, de suspiro. Se sabemos acenar de longe é que sempre houve um pampa entre nós.

Naquele deserto povoado e fértil, você é assaltado por emoções estranhas de pertencimento e apego: ali, fica com vontade de escrever cartas, fica com vontade de mandar um postal para algum parente distante, fica com vontade de perdoar qualquer desafeto, anistiando a memória.

É uma paz de espírito que nos devolve a firmeza do corpo. Admirar a campanha é perder o fôlego e aguardar que alguém nos ensine generosamente como olhar"