RETRATO DA SEMANA

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domingo, 9 de outubro de 2022

 

QUANDO GAÚCHO ERA OFENSA



No Dicionário de Regionalismos do Rio Grande do Sul, seus  autores - Zeno e Rui Cardoso Nunes - esclarecem um fato que, para as atuais gerações parecem incompreensível: a palavra gaúcho tinha originalmente um sentido pejorativo. Gaúcho era o vagabundo, andejo, gaudério, changador, contrabandista, desregrado. Na melhor das hipóteses, os gaúchos misturavam aquela condição com o fato de serem leais, valorosos e hospitaleiros. O gaúcho era a mão-de-obra ideal para uma província guerreira, que precisava recrutar permanentemente braços para as constantes guerras fronteiriças. Nenhum dos chefes militares farroupilhas, por exemplo, aceitava ser chamado de gaúcho. Eles se diziam rio-grandenses. 

Este significado pejorativo não era unicamente dos gaúchos do Rio Grande do Sul. Argentinos e uruguaios também registram a mesmo evolução para a palavra gaucho. O pampa era o reino da barbárie. Domingo Faustino Sarmiento produziu em 1845 uma obra clássica, Facundo, sobre o tema com esse enfoque negativo. O Capitão Rodrigo, de Erico Veríssimo, é um pouco essa imagem paradoxal de gaúcho ao mesmo tempo marginal, guerreiro e generoso. 

Foi depois da metade do século 19 que a acepção pejorativa começou a dar lugar a outra, nobilitante. Na argentina a imagem do gaúcho foi resgatada por Jorge Luis Borges, em várias passagens de sua obra, e em Ricardo Güiraldes, no mais belo livro sobre a vida gaúcha, o Dom Segundo Sombra. E no Brasil, formou-se toda uma cultura em torno do gentílico de que são provas os milhares de centros de tradições gaúchas.

Roberto Fonseca/História do RS para jovens.