DEFINIÇÃO DE PAJADOR
NOS VERSOS DO SAUDOSO POETA
BALBINO MARQUES DA ROCHA
A alma do Payador
nasce da terra sem trato,
é o verso rude e barato
de um pobre frente ao rigor.
É uma mensagem de amor
do poeta bruto, sem prática,
sem pontuação nem gramática,
sem norma, poesia crua.
É o rastreio do charrua
sobre um trilho de capincho.
É o arrepio de um relincho
ao puma que mostra o vulto
no ramalhar da folhagem...
É a mística pabulagem
da arenga dum índio inculto.
É o berro no descampado,
é um galho velho acordado,
é o sereno respingado.
É a neblina da manhã
no toso de uma tropilha....
na copa da coronilha
do tronco do tarumã.
Não confundam Payador
com poeta de gabinete...
Um faz métrica pensada,
é gado manso em aguada,
é freio em vez de bocal.
Outro trança no momento
e reponta o pensamento
formando o verso bagual !
O Payador é o peão
que sai pro campo sozinho.
Se leva, leva um cusquinho
pras horas de precisão...
O outro sai escoltado,
é o dono bem aperado
num cavalo de patrão.
Um traz o peito sereno
já sabe o fim da canção,
outro a cabeça é um vulcão,
estica a ideia e a rima
tinindo de corda prima
na carcaça do violão.