RETRATO DA SEMANA

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quinta-feira, 9 de junho de 2022

A HISTÓRIA RECRIADA

 

A réplica do barco Seival construído para relembrar as façanhas do Herói de Dois Mundos Giuseppe Garibaldi que há quase 200 anos usou tal lanchão para invadir Laguna na Guerra dos Farrapos, num dos episódios mais pitorescos deste evento bélico, já navega pela Lagoa dos Patos. Depois de muitos estudos, planos e trabalho minucioso, a reconstrução histórica do Seival fez a primeira viagem na última sexta-feira (3) entre o Arroio Velhaco, em Arambaré, e Tapes.

Em construção há dois anos e com um custo total de cerca de R$ 600 mil, a réplica do barco Seival, é uma iniciativa do professor Antônio Carlos Rodrigues que envolveu uma mudança de cidade, doações vindas da Itália e até acesso a um registro fotográfico raro da embarcação. Para tal projeto o professor se baseou em documentos históricos, em plantas de embarcações de Laguna e em uma fotografia do Seival original tirada em 1908. A réplica pesa cerca de 15 toneladas e tem 15 m de comprimento, com largura de 3,8 m e altura de 3,2 m.

Camaquã foi escolhida pelo professor, que é natural de Passo Fundo, porque textos históricos apontam que foi lá que os farrapos construíram o Seival e outro barco usado na tomada de Laguna, o Farroupilha.

"A ideia desse projeto tem 5 anos. Fizemos sem apoio institucional, do poder público ou de grandes empresas, eu que coloco a mão na massa. Faço pesquisa, busco materiais, pego nas ferramentas, tudo com apoio da família e de amigos", conta o professor.

Rodrigues contou com doações de amigos e familiares, além de um aporte vindo da Associação Garibaldina de Roma, na Itália. Para centralizar todos os interessados em ajudar na ideia, o professor criou a Associação Sócio-Ambiental Amigos do Seival (Asas).

Chamado à época de "lanchão", o barco Seival original é figura central em uma das passagens mais importantes da Revolução Farroupilha. Como o porto de Rio Grande estava fechado pelos imperialistas, os farrapos decidiram transportar duas embarcações - o Seival e o Farroupilha - por terra, com a ajuda de grandes carroças de madeira puxadas por centenas de bois entre Camaquã e Tramandaí.

A partir da Lagoa Tomás José, na altura de Imbé, os dois barcos passaram a navegar até Laguna. O Farroupilha naufragou, deixando 16 integrantes mortos, enquanto o Seival, sob comando de Giuseppe Garibaldi, chegou ao seu destino - em episódio que culminou com a tomada da cidade catarinense pelas forças farrapas.

A construção da réplica, no entanto, tem finalidade pedagógica. A ideia de Rodrigues é transformá-la em uma espécie de museu itinerante, contando a história da Revolução Farroupilha e, principalmente, sobre o episódio da tomada de Laguna.

"Queremos instigar a pesquisa da nossa história, principalmente na questão náutica. Durante a pesquisa, vimos a riqueza da história náutica farroupilha, que é intensa e apaixonante", avalia o professor.

Depois da apresentação do barco ao público, o professor agora se prepara para sair em turnê com seu museu itinerante. A ideia inicial é visitar as cidades que fizeram parte do trajeto original do Seival e do Farroupilha. Laguna, o destino final, receberá o novo Seival entre 12 e 20 de julho.